Simulação ajuda na formação de médicos-residentes e no controle da ansiedade e depressão
Publicado por: Camila Delmondes
14 de agosto de 2018

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Desde 2010, quase mil estudantes do sexto ano de graduação em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp participam de uma atividade de simulação de consultas médicas com atores profissionais, para refletir sobre a relação médico-paciente e a consulta médica como um todo. Esse treinamento se dá durante o estágio curricular de Emergências Clínicas. Os resultados – especialmente seu impacto positivo na empatia dos estudantes – foram tema de uma tese de doutorado e alguns artigos científicos já publicados.

A partir de 2014, os médicos Marcelo Schweller, Diego Lima Ribeiro e os atores profissionais Adilson Ledubino e Leticia Frutuoso, supervisionados pelo professor Marco Antonio de Carvalho Filho, passaram a oferecer uma atividade semelhante aos residentes de Clínica Médica e Medicina de Emergência.

De acordo com Marcelo Schweller, a residência-médica é um período intenso da carreira médica, em função da transição de um período em que o indivíduo ainda tem como foco principal o processo de aprendizagem, para outro em que se torna peça central no cuidado dos pacientes. Nessa fase, os residentes enfrentam dificuldades e dilemas ético-profissionais, e não é incomum que experimentem sintomas relacionados à síndrome de Burnout, ansiedade e depressão.

“Para navegarem mais seguros através das dificuldades, é necessário que reflitam sobre suas experiências passadas e atuais, idealmente sob supervisão de um profissional experiente. Estratégias ativas de ensino-aprendizagem como a simulação podem ser um bom preparo para a vida real, ao trazerem à tona problemas reais em um ambiente controlado, sem ameaça à segurança física e emocional dos residentes e dos pacientes”, explica Schweller.

Usualmente, supervisores mais experientes desenham cenários de simulação a fim de reproduzir desafios da prática médica. No entanto, os professores nem sempre conseguem prever ou conhecer toda a complexidade da vivência emocional dos residentes frente a dificuldades. Assim, surgiu a ideia de oferecer aos residentes uma atividade em que eles mesmos pudessem elaborar casos clínicos e treinar os atores para criar a atmosfera emocional de seus próprios dilemas.

Residentes de Clínica Médica e Medicina de Emergência foram divididos em pequenos grupos de quatro a oito pessoas para participar da simulação de consultas, com foco na interação do médico com o paciente e nos sentimentos envolvidos. Cada grupo compareceu há pelo menos três sessões, cada uma com um caso clínico diferente.

Na primeira semana, os residentes atendiam um caso elaborado pelos professores. A partir da segunda semana, os casos eram criados pelos próprios residentes, em conjunto com os atores, para que surgissem em cena as situações que os desafiam em sua prática clínica diária. Nesses casos, os próprios professores supervisores assumiam o papel de residentes e atendiam os pacientes, voltando ao papel de facilitadores da discussão (debriefing) após o término da consulta.

Essa discussão não se limitava a relembrar habilidades superficiais de comunicação, mas foi ampliada em duração e profundidade para acessar as emoções desencadeadas pelos dilemas da consulta e da interação com o paciente. Os residentes participaram com grande intensidade, tanto na elaboração dos casos como nas discussões.

Muitas vezes, os cenários que criaram foram extraordinariamente complexos, por combinar diversos conflitos e dilemas em um único caso clínico, inserindo o supervisor em uma situação de crise. “No imaginário dos residentes, era esperado que os professores perdessem a serenidade e a calma ao encarar as situações propostas”, diz Schweller.

Um dos pontos mais importantes para a discussão era a surpresa dos residentes ao testemunharem no atendimento dos professores uma reação diferente daquela que esperavam. Essa foi uma ótima oportunidade para os professores perceberem que as reações emocionais do médico interferem em sua conduta profissional – positiva ou negativamente –, principalmente ao lidar com situações potencialmente estressantes.

Na opinião de Schweller, foi recompensador observar que os residentes que vinham passando por sofrimento e dificuldades emocionais sentiram-se seguros para compartilhar suas experiências e pensamentos durante o debriefing. “Por isso, e principalmente pelo relato dos residentes que participaram, acreditamos que houve benefício profissional e pessoal com a atividade, apesar de não terem sido obtidos dados quantitativos em relação aos seus desfechos”, finaliza.



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