Rede Margarida apresenta: O controle social no combate ao adoecimento mental e à violência do trabalho
Publicado por: Camila Delmondes
10 de maio de 2023

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Sobre a Rede Margarida

Nasce uma flor no asfalto –  a rede margarida

Atualmente, cerca de um bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental, sendo o Brasil um dos países com mais alta prevalência em comparação com outros países da América, apresentando taxas de depressão de 5,8% e ansiedade de 9,3% (OMS, 2019). Dados levantados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) indicam que nos últimos 20 anos dobrou o número de casos de suicídio no Brasil, passando de sete mil em 2000 para 14 mil em 2020.

Entre os determinantes principais para este cenário estão as formas atuais de organização do processo de trabalho e seus modelos de gestão, que são cotidianamente atravessados pela precariedade dos contratos de trabalho, pressão por alto desempenho, quebra dos vínculos de apoio e solidariedade nos ambientes de trabalho, falta de suporte social aos trabalhadores, assédio moral etc. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que somente em 2020 no Brasil foram registrados mais de 570 mil afastamentos por transtornos mentais, número 26% maior do que o registrado em 2019; e dentre as doenças listadas pela entidade estão inclusos transtornos como depressão, ansiedade, pânico, estresse pós-traumático, transtorno bipolar e fobia social.

Com os corações abertos e os olhos atentos para este conjunto de problemas, há quase um ano pesquisadores/as, cientistas, trabalhadores/as, sindicalistas, ativistas, juristas, sanitaristas e médicos/as se reúnem em vistas as mesmas angústias e necessidades: enfrentar o sofrimento mental e o suicídio relacionados ao trabalho. Neste percurso foram construídas equipes de pesquisas, oficinas, espaços de debates e aprofundamentos sobre o tema. O que só fez reforçar a importância do tema, bem como a urgência da luta. O resultado não poderia ser melhor, na última terça-feira (07.03) brotou uma nova flor, ou melhor, todo um novo canteiro: a rede margarida.

O nome não é apenas uma alusão a capacidade de resistência que as margaridas possuem frente às intempéries naturais, mas, sobretudo, uma homenagem a uma das mais proeminentes e comprometidas pesquisadoras na luta contra o sofrimento psíquico causado pelas relações laborais e o assédio, a médica Margarida Maria Silveira Barreto. O canteiro é uma aliança que inicialmente se constitui entre o Ester (Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho da Unicamp), outras universidades, o Ministério Público do Trabalho - Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região e mais de 20 entidades e órgãos representativos dos trabalhadores/as (listados nominalmente à baixo), abarcando vários cantos do país.

A complexidade da questão exige mais que boa intenção, exige propósito e organização. Por isso, a rede margarida visa partilhar saberes e experiências, reconstruir laços de solidariedade entre as classes trabalhadoras e somar forças em prol de modos mais saudáveis em nossas vidas. O trabalho deve ser fonte de realização e não de sofrimento. E para levar isso a cabo, os conhecimentos, as práticas e as soluções almejadas devem ser construções compartilhadas, na quais todos/as interessados/as participem como interlocutores ativos e as diferentes formas de experiências e saberes sejam respeitadas.

A rede margarida funciona de modo aberto e horizontal. Todos/as aquelas organizações, entidades e órgãos que partilharem das mesmas angústias e necessidades são bem-vindas. Neste momento a rede possui encontros mensais à distância, com voz e voto aberta a todos/as. O calendário do primeiro semestre já está em construção, com algumas atividades já previstas.

Como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade, “uma flor nasceu na rua, ... e rompe o asfalto…”. Ela já tem nome, canteiro e propósito.


Atualmente, fazem parte da rede margarida (em ordem alfabética):

  1. Associação dos Motofretistas Autonômos do Distrito Federal
  2. Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
  3. Central Única dos Trabalhadores (CUT)
  4. Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST) de Campinas
  5. Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST) Estadual de São Paulo
  6. Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) Nacional
  7. Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT)
  8. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
  9. Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS)
  10. Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
  11. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)
  12. Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e Ambientes de Trabalho (DIESAT)
  13. Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad)
  14. Federação Única dos Petroleiros (FUP)
  15. Força Sindical
  16. Fórum Nacional das Centrais Sindicais em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
  17. Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança dos Trabalhadores e Trabalhadores de Minas Gerais
  18. Frente Ampla em Defesa da Saúde de Trabalhadores e Trabalhadoras
  19. Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST)
  20. Observatório Sindical Brasileiro Clodesmidt Riani (OSBCR)
  21. Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (SindiPetro MG)
  22. Sinergia CUT
  23. União Geral dos Trabalhadores (UGT)


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