Recepção a ingressantes de PPGs em Saúde Coletiva tem conferência com Maria Cecília Minayo, da Fiocruz
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
20 de março de 2025

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Os Programas de Pós-graduação em “Saúde Coletiva” e “Saúde Coletiva: Políticas e Gestão em Saúde”, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, realizaram a recepção aos alunos ingressantes de mestrado e doutorado no dia 13 de março, no Auditório Sérgio Arouca.

Após as boas-vindas da chefe do Departamento de Saúde Coletiva, Rosana Onocko Campos, os participantes assistiram à conferência “Problematização do conceito de determinação social”, ministrada pela professora Maria Cecília de Souza Minayo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A convidada trouxe uma crítica profunda ao uso simplista e pouco reflexivo do conceito de determinação social na saúde coletiva. Ela destacou que, embora amplamente utilizado na academia, o termo muitas vezes é aplicado de forma superficial, sem a devida problematização.

Minayo criticou a compreensão que trata as estruturas sociais como determinantes fixos e a históricos. “Os pobres são marcados pela determinação social. Mas essa visão objetivista é simplista, pois leva a uma reificação das estruturas, como se elas existissem por si mesmas e fossem capazes de determinar os fatos”, refletiu.

A professora argumentou que qualquer questão de saúde que inclua a dimensão social não pode ser reduzida a fatores biológicos ou estruturais isolados. É preciso considerar a história do indivíduo e do contexto em que ele vive.

Ela explicou que o conceito de determinação social teve origem na epidemiologia latino-americana, influenciado pelo marxismo estruturalista de Althusser. No entanto, criticou essa abordagem por desconsiderar a agência humana.

Maria Cecília de Souza Minayo, da Fiocruz, ministrou conferência remotamente a alunos. Foto: Marcelo Oliveira/ARPI

Minayo contrastou o determinismo, que vê os fenômenos como predeterminados por causas anteriores, com a visão contemporânea da complexidade. Para isso, citou pensadores como Ilya Prigogine e Henri Atlan, que defendem que os fenômenos naturais e sociais são marcados por bifurcações e imprevisibilidade.

“Prigogine mostrou que os seres vivos, quando estão longe do equilíbrio, adquirem novas propriedades por meio de escolhas. Isso vale para átomos, moléculas e também para os seres humanos. O futuro é uma mistura de condições dadas, acaso, oportunidades e decisões pessoais”, declarou.

De acordo com a professora, as teorias sociais e de saúde devem incorporar a complexidade e a interação entre indivíduo e sociedade, reconhecendo que as estruturas sociais são historicamente construídas e podem ser transformadas.

“Bourdieu dizia que as instituições são habitadas e vividas por pessoas, que não apenas repetem o que está dado, mas também contribuem para mudá-las. Nós não somos apenas determinados pelas estruturas; nós as construímos e reconstruímos”, afirmou.

Por fim, Minayo defendeu uma visão humanista e complexa da saúde coletiva, que reconheça a capacidade humana de criar, superar e transformar realidades, mesmo em contextos desafiadores.

“Sugiro que eliminemos o termo ‘determinação social’ do nosso vocabulário. Aceitar que as pessoas são determinadas socialmente significa desdenhar de sua criatividade, autonomia e capacidade de reagir. Tudo o que é humano pode se desmanchar no ar. É um grito de esperança!”, declarou.

Público encheu auditório Sérgio Arouca. Foto: Marcelo Oliveira/ARPI

Currículo

Maria Cecília Minayo é graduada em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Ciências Sociais pela City University of New York (CUNY). Foi responsável pela criação da revista Ciência & Saúde Coletiva, referência na área, e presidiu a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Além disso, criou o Fórum de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, espaço que reúne coordenadores de programas de pós-graduação em Saúde Coletiva duas vezes por ano.



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