Pesquisa da Unicamp investiga o papel do gene ERP29 no desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço
Publicado por: Camila Delmondes
01 de julho de 2021

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Após a identificação de mais de 6 mil variações genéticas possivelmente associadas ao surgimento do câncer de cabeça e pescoço, pesquisadores do Laboratório de Genética do Câncer (LAGECA) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp investigaram o papel do gene ERP29, envolvido com o processamento de proteínas tumorais, no desenvolvimento desse tipo de câncer.

A identificação inicial dessas variações genéticas, por meio da genotipagem em larga escala com microarranjos de DNA, fez parte do projeto de doutoramento do pesquisador Gustavo Jacob Lourenço, orientado pela docente do Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia da FCM, Carmen Silvia Passos Lima, e contou com a colaboração do professor do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Cientifica (IMECC) da Unicamp, Benilton Carvalho. Entre as mais de 6 mil variações genéticas encontradas, uma variação no gene ERP29 foi validada no projeto de mestrado da biomédica Juliana Carron.

Os achados científicos – derivados da pesquisa de mestrado desenvolvida no âmbito do programa de Pós-graduação em Clínica Médica – foram publicados recentemente na revista internacional Scientific Reports e poderão auxiliar no reconhecimento de pessoas com maior risco de desenvolver esse tipo de tumor, além de possibilitar melhores alternativas de tratamento.

A pesquisa contou com 500 participantes, entre pacientes e grupo controle, e foi orientada pelo biólogo Gustavo Jacob Lourenço e coorientada pela médica Carmen Silvia Passos Lima.

Dados do estudo mostraram que os indivíduos com o genótipo homozigoto variante GG apresentaram um risco aumentado de cerca de 6 vezes para a ocorrência do tumor, dada à instabilidade do RNA mensageiro do gene ERP29, que apresenta menor produção da proteína ERp29. E que os pacientes com o tumor de cabeça e pescoço portadores do genótipo GG apresentaram pior sobrevida do que os pacientes com os outros genótipos (AA ou AG).

“Indivíduos com genótipo GG apresentaram menor expressão do gene ERP29, menor produção da proteína ERp29 e maior expressão do miR-4421”, comentou Juliana, ao explicar que o papel da proteína ERp29 no desenvolvimento e na progressão tumoral ainda é controverso. “Em certos tipos tumorais, como no câncer de mama e de fígado, o gene ERP29 parece facilitar o desenvolvimento tumoral. Já no câncer de pulmão, ele parece inibir a formação do tumor”, disse.

Ainda de acordo com a pesquisadora do LAGECA, é possível que indivíduos portadores do genótipo GG apresentem maior risco de ocorrência do tumor e pior prognóstico devido a menor expressão do ERP29, modulada pelo microRNA denominado miR-4421. “A consequente perda da função enquanto supressor tumoral facilitaria a proliferação e a invasão celular”, afirmou Juliana.

Considerado um problema de saúde pública, o câncer de cabeça e pescoço tem o tabagismo e o alcoolismo entre os principais fatores desencadeantes, mas, a busca de novos marcadores, associados ao surgimento e ao prognóstico da doença, incluindo fatores genéticos, tem sido uma constante na comunidade científica.

“Embora tenhamos descrito o papel da variante genética na modulação do ERP29, a função da proteína ERp29, bem como os mecanismos associados ao surgimento e à progressão do câncer de cabeça e pescoço e os possíveis genes regulados pelo ERP29, permanecem desconhecidos”, ponderou Juliana, que agora dá continuidade ao projeto no doutorado, buscando avaliar os possíveis mecanismos modulados pelo gene ERP29 e sua relação com o surgimento e a progressão da doença.

Na atualidade, muitos pacientes com câncer de cabeça e pescoço chegam ao hospital em estágio avançado da doença. O tratamento, nesses casos, envolve terapêutica multimodal com cirurgia, radioterapia e quimioterapia à base de cisplatina. Apesar disso, o índice de sobrevivência desses pacientes é de apenas 30% após cinco anos.

“No futuro, esperamos poder oferecer tratamento médico individualizado aos pacientes, com maiores chances de cura. Além de oferecer recomendações adicionais ao público de risco, os marcadores genéticos podem auxiliar na identificação de casos que necessitem de tratamento mais agressivo”, disse a pesquisadora.



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