O estado da arte no ensino, avaliação de empatia e identidade profissional
Publicado por: Camila Delmondes
01 de dezembro de 2015

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O professor Manuel João Tavares Mendes da Costa, da Escola de Ciências da Saúde (ECS) da Universidade do Minho, de Portugal, esteve de 23 a 25 de novembro na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp debatendo as estratégias curriculares, o papel das unidades de educação médica no ensino e discutindo o “fantasma” da empatia que ronda as escolas de medicina. “Uma escola de medicina é um laboratório. Precisamos formar médicos mais humanos e aprender a fazer isso cada vez melhor, com base científica”, disse Manuel.

No dia 25, pela manhã, ele foi recebido pelo diretor e diretor associado da FCM, Ivan Felizardo Contrera Toro e Roberto Teixeira Mendes. A reunião foi acompanhada pela professora Eliana Amaral, coordenadora do programa de pós-graduação em Ensino na Saúde. “A Universidade do Minho foi criada com o objetivo de ser uma nova escola de medicina com propostas avançadas e evidências científicas na formação da graduação. Vamos estabelecer um convênio que vai permitir a colaboração no ensino, na residência médica, na pesquisa e na administração”, revelou Eliana.

Ainda durante o período da manhã, Manuel fez a conferência “O estado da arte no ensino e avaliação de empatia – certezas... e dúvidas”. A conferência encerrou as atividades do semestre da pós-graduação em Ensino e Saúde. Manuel apresentou a base do estudo longitudinal aplicado nos alunos do primeiro ao sexto ano do curso de medicina da ECS da Universidade do Minho para avaliar a empatia. A conferência, na íntegra, está disponível na Câmera Web.

“A definição de empatia varia. Há pesquisas que mostram que a empatia é cognitiva, emocional ou comportamental. Estudos recentes apontam alguns circuitos cerebrais como ativadores da capacidade em compreender o sofrimento do outro. Onde estão os parâmetros? O que estamos fazendo com nossos alunos? A empatia é um bem, não só na medicina. Compreender o paciente para poder ajudá-lo não pode ser um problema”, disse.

Manuel concedeu entrevista baixo ao Portal da Unicamp:

Portal FCM - O que é empatia? Como conceituá-la?
Manuel João Tavares Mendes da Costa - A definição de empatia não é consensual e tem evoluído. Uma conceitualização abrangente de “empatia clínica no contexto dos cuidados de saúde”, inclui a capacidade de tomar a perspectiva e de compreender o estado de espírito do paciente, a capacidade de sentir a experiência, necessidades, desejos e emoções do paciente e a capacidade de estabelecer uma relação terapêutica com o  paciente, tomando em conta os elementos anteriores.

Portal FCM - Qual é a maior dificuldade em usar a empatia com critério de base científica para estudos longitudinais?
Manuel - A empatia é uma característica multifatorial, o que torna difícil a sua medição. Atualmente, não existem ainda formas de quantificar as várias dimensões da empatia, o que condiciona a recolha de medições ao longo do tempo.

Portal FCM - De que maneira a empatia assombra as instituições de ensino médico?
Manuel - Um estudo longitudinal desenvolvido com os estudantes de uma instituição Norte Americana com uma medida de empatia – a Escala de Empatia de Jeferson – concluiu que os valores dessa medida de empatia diminuíam ao longo do curso de medicina. Esta conclusão tem sido generalizada, inapropriadamente, tendo originado uma noção de que  as escolas médicas estão a destruir a empatia dos estudantes. Posteriormente, estudos longitudinais desenvolvidos com a mesma medida, em outros países, incluindo na Universidade do Minho, permitiram confirmar que essa diminuição não era geral.

Portal FCM - Como humanizar o ensino médico?
Manuel - Ao longo da sua aprendizagem, devem ser passados aos estudantes todos os sinais que demonstrem que a dimensão humana do médico é um valor integral da sua formação e prática profissional. Assim, é importante integrar as humanidades nos currículos de medicina, criando espaços adequados e trabalhando as temáticas de forma integrada com as disciplinas das áreas científicas e clínicas. Ao nível institucional, as escolas e as instituições de cuidados de saúde que acolham estudantes, devem assumir e explicitar que a sua missão é formar médicos humanos passando, assim, a importância de compreender o paciente e não a sua doença.

Portal FCM - Quais as possíveis parcerias entre a Escola de Ciências Médicas da Universidade do Minho e a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp em pesquisas colaborativas no campo do ensino?
Manuel - O desenvolvimento de estudos nas duas instituições seria uma mais valia em termos de pesquisa internacional, pois são raros os estudos desenvolvidos em mais de uma escola. Nas nossas duas escolas, existem estudos que procuram compreender como desenvolver a empatia dos estudantes, e já há uma parceria em curso em torno do tema. Há interesse comum em estudar outros temas, tais como o clima educativo das instituições, o desenvolvimento das preferências de carreira dos estudantes de medicina ou os motivos pelos quais os estudantes se envolvem em atividades extra-curriculares. Adicionalmente, temos a perspectiva de desenvolver iniciativas conjuntas ao nível da pós-graduação que possam facilitar o intercâmbio de estudantes e de pesquisadores.

Manuel João Tavares Mendes da Costa é professor associado e coordenador da Unidade de Educação Médica da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, onde tem implantado inúmeros projetos bem-sucedidos de inovação no ensino e no sistema de avaliação dos estudantes. Publicou 42 artigos em revistas especializadas sobre educação médica, sendo as mais recentes com enfoque na empatia e aspectos psicométricos. Ele veio à FCM com o apoio do Projeto Pró-Ensino na Saúde da CAPES. 



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