Livro organizado por docentes da FCM e UEMG expõe aspecto adoecedor do Capitalismo
Publicado por: Camila Delmondes
18 de junho de 2024

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Na tarde do dia 3 de junho, no Auditório Marielle Franco do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp ocorreu o lançamento do livro “Capitalismo Paradoxante: Um Sistema Adoecedor” dos sociólogos franceses Vincent de Gaulejac e Fabienne Hanique. Organizado por Marcia Bandini, docente do Departamento de Saúde Coletiva  da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e Matheus Viana Braz, professor da Universidade Estadual de Minas Gerais, o livro publicado pela Editora Hucitec é uma iniciativa de maior articulação entre a Saúde Coletiva e a Sociologia clínica em estudos sobre as condições de vida dos trabalhadores e das trabalhadoras no capitalismo contemporâneo.

O evento foi organizado pelo Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (ESTER), com a psicóloga e pós-doutoranda em Saúde Coletiva, Cathana Oliveira, e o sociólogo e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp, Agnus Lauriano.

Vincent de Gaulejac, professor emérito da Universidade Paris-Diderot, participou do lançamento por videoconferência, com tradução ao vivo, e expôs que o livro é uma continuidade de décadas de estudos sobre diversas organizações de como o trabalho afeta as condições de saúde de seus trabalhadores e suas trabalhadoras, em nome da filosofia empresarial e dos lucros. Como consequência, o estresse, o burnout, o esgotamento, o assédio e os quadros de depressão têm sido cada vez mais frequentes e são acompanhados pela perda de sentido do trabalho, o mal-estar difuso e a conjugação de incompreensão, incoerência e conflitos de valores.

“As pessoas que trabalham sofrem uma dupla condição de resignação e impotência, enquanto novas políticas de gestão são desenvolvidas pelas empresas e potencializam o mal-estar gerado pelas exigências contraditórias, levando seus trabalhadores a se sentirem ainda mais impotentes e culpados. Criam-se, então, as injunções paradoxais, com sofrimento e adoecimento mental. Isso é o capitalismo paradoxante”, comentou Gaulejac.

Em participação especial no evento de lançamento da obra, o sociólogo Ricardo Antunes destacou que o adoecimento se tornou o “normal” nas empresas e no capitalismo contemporâneo. Segundo ele, quando o normal é fazer tudo pelo mundo organizacional, pela empresa, cumprir metas, esse é o leitmotiv do ideário corporativo.

“Em nossas pesquisas, não entrevistamos nenhum trabalhador, nenhuma trabalhadora que ela ou ele não diga que tem de cumprir a meta. Mas quem definiu este inferno? Todos interiorizam isso. Param de trabalhar quando terminam de cumprir suas próprias metas. Há trabalhadores de aplicativo que para obter uma meta de 400 reais líquidos por dia, trabalhavam numa jornada de 20 horas diárias”, afirmou Antunes.

Marcia Bandini trouxe dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a alta prevalência de ansiedade no Brasil (18,6 milhões e pessoas) e maiores taxas de suicídios em algumas ocupações, destacando a centralidade do trabalho no processo saúde-doença. O livro conta com um capítulo escrito especialmente para a edição brasileira, assinado também pelo professor Sergio Roberto de Lucca.



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