Estudo qualitativo da FCM sobre profissionais de saúde no auge da pandemia da Covid-19 é publicado na revista PLOS Mental Health
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
21 de fevereiro de 2025

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Pesquisa do psicólogo Felipe Santos da Silva, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi publicado no periódico PLOS Mental Health. O artigo, fruto de sua dissertação de mestrado sob orientação do professor Egberto Ribeiro Turato, analisa a experiência de médicos e enfermeiros que atuaram em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp durante a pandemia de Covid-19.

Intitulado “We started to care for our colleagues”: A qualitative study of statements by physicians and nurses from a COVID-19 ICU of a public university hospital in the Southeast region of Brazil, o estudo contou com a coautoria de outros sete pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa (LPCQ), além da colaboração do professor Diego Romaioli, da Universidade de Pádua, na Itália. A pesquisa utilizou a metodologia da Análise de Conteúdo Clínico-Qualitativa (ACCQ) para interpretar os significados emocionais e simbólicos relatados pelos profissionais entrevistados.

Entre os achados do estudo está o tópico “tempo psíquico e as simbolizações rudimentares”, considerando a experiência pessoal durante a pandemia. Segundo os pesquisadores, ao contrário do que pensaria o senso comum, a agudeza das vivências necessita de simbolizações lentamente organizadas. Estar em linha de frente de cuidados intensivos de uma doença letal, que então abalava o mundo, requeria tempo físico para estabelecer, de modo claro, as percepções sensoriais em curso no ambiente dos cuidados. Assim, os relatos dos profissionais entrevistados foram mais descritivos, quase que “jornalísticos”, e menos emocionalmente compreensivos no sentido interpretativo.

Os médicos e os enfermeiros ouvidos, como esperado, não foram negacionistas, ou seja, não assumiram postura ativa de desconsiderar gravidades. Porém, houve certo grau de “negação psicodinâmica” - mecanismo inconsciente, de natureza individual, enquanto defesa mental necessária, ou mesmo de adaptação psicossocial, para prosseguir na tarefa assistencial. Na relação interpessoal externa, emergiu o relato sobre o grupo familiar, com experiências ambivalentes entre certa tensão psicológica e as atitudes positivas de suporte afetivo. Para lidar com percepções de insegurança, houve um “corredor” entre a técnica de trabalho e a dimensão afetiva mais proeminente.

Grupo do Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa da FCM em banca de mestrado de Felipe. Foto: acervo pessoal

Outra categoria de discussão ocupou-se do papel do “ego coletivo” intensificado, no qual o senso de coletividade superou o de individualidade, mais comumente observado. Quanto ao recorte de fala, que abre o título do artigo, aparece com forte ansiedade o relato de uma das enfermeiras entrevistadas por Felipe: “Começamos a cuidar de colegas. Ou a verificar os nossos colegas que estavam hospitalizados em outro lugar”, o que não era frequente em situação da normalidade não-pandêmica.    

O psicólogo atribui a relevância da publicação do ponto de vista histórico, por ser contemporâneo, investigando vivências emocionais no ápice da pandemia. Considerando o aspecto teórico-metodológico, objetivou investigar núcleos de sentidos que se desvelam durante os relatos de profissionais de saúde, familiares ou pacientes. Por fim, para o pesquisador, a publicação dá continuidade ao compromisso de disseminar os conhecimentos construídos e adquiridos durante a etapa de investigação.

“O desenvolvimento do processo de pesquisa foi permeado por diversos atravessamentos bastante desafiadores ocasionados pela pandemia. Ter a possibilidade de divulgar um trabalho de tamanha potência torna prazeroso e gratificante o fazer do pesquisador, que está distante de ser visto ou descrito de maneira romântica ou inocente, mas que possui sua beleza. Faz valer a pena todo percurso que trilhamos, por meio da publicação de resultados de relevância social, psicológica e histórica”, declara o mestre em Ciências Médicas pela FCM.  

“O projeto viabilizado durante o auge da pandemia de Covid-19 foi caracterizado como um cutting-edge, o que pesou para a conquista de espaço editorial neste periódico internacional. As conclusões poderão servir a leitores em seus manejos psicológicos de vivências ímpares por plantonistas de unidades de cuidados agudos. Trata-se de um journal de recente ramificação do prestigioso grupo PLOS. Esta divisão nasceu com o escopo de conectar especialistas das diversas áreas do grande campo da saúde mental: as escolas das psicologias, a psiquiatria clínica, a medicina comportamental e as ciências sociais aplicadas”, afirma Egberto.

Egberto e Felipe expõem trabalho na Semana de Pesquisa da FCM em XXXX. Foto: acervo pessoal

O LPCQ

Fundado em 1997, o Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa desenvolve pesquisas na busca da compreensão dos significados atribuídos pelas pessoas aos fenômenos vivenciados do adoecer e dos cuidados. Utiliza o Método Clínico-Qualitativo (MCQ) - especificação e refinamento dos métodos genéricos focado na Psicologia Médica, para aplicação em settings clínicos assistenciais, aplicando entrevistas semidirigidas de questões abertas, em profundidade, na coleta de dados com sujeitos, seguida de Análise de Conteúdo Clínico-Qualitativa (ACQC) na emergência de núcleos de significados, enquanto categorias para interpretação, sob um quadro de referências teóricas psicodinâmicas.

PLOS Mental Health

PLOS Mental Health é um periódico global, multidisciplinar e de acesso aberto que reúne pesquisas relevantes para a melhoria da saúde mental e do bem-estar de todas as pessoas ao redor do mundo. Os trabalhos publicados no periódico abrangem desde pesquisas acadêmicas e clínicas até tecnologias para aprimorar a saúde mental, impactos na inclusão social, além de políticas e governança. O periódico considera todos os tipos de tratamentos e intervenções baseados em evidências e rigorosamente pesquisados, incluindo atividades comunitárias e lideradas por pares, bem como suporte digital.



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Correspondência:
Rua Vital Brasil, 80, Cidade Universitária, Campinas-SP, CEP: 13.083-888 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.
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