Estudantes do Programa Ciência e Arte “Povos da Amazônia” participam de projeto no Laboratório de Genética Molecular do Câncer da FCM
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
08 de fevereiro de 2023

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Alunos de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) do Programa Ciência e Arte “Povos da Amazônia” (CAPAm 2023) participam, de 17 janeiro a 16 fevereiro, de projeto no Laboratório de Genética Molecular do Câncer (GEMOCA) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O projeto de pesquisa da FCM selecionado para o programa, intitulado “A Biologia Molecular aplicada a soluções sustentáveis para o Ecossistema Amazônico”, é orientado pela professora Laura Sterian Ward. A docente, do Departamento de Clínica Médica da FCM, coordena o GEMOCA.

Elisangela Teixeira, aluna do doutorado em Clínica Médica, explica aos alunos sobre a observação das células. Foto: Karen Menegheti/ARPI

Troca de saberes

Gabriel Braga, estudante de Odontologia do campus de Belém da UFPA, explica que o trabalho desenvolvido na FCM muitas vezes tem paralelos com o que realiza em sua faculdade. “Estou gostando bastante de participar das atividades do GEMOCA. Nessas trocas de conversas, a gente percebeu que há uma relação das análises que são feitas aqui com as da UFPA, como o uso de medicamentos fitoterápicos que foram descobertos para tratamento de câncer e patologias orais”. Ele deu o exemplo do uso do óleo de andiroba, planta nativa do Norte, para substituir a laserterapia no tratamento de mucosite, que vai de encontro a pesquisas desenvolvidas no GEMOCA. Gabriel também falou sobre a importância do CAPAm. “A gente veio com intuito de mostrar que a UFPA está formando bons pesquisadores, podemos fazer parcerias com a Unicamp e abrir portas para novos estudos. Essa troca de saberes é bem interessante. Uma visão para o futuro é mandar pesquisadores daqui para a UFPA, para que tenham uma visão de como o campus é plural. Estamos na beira do rio, coletando dados com populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas”. 

Marielna Silva, que estuda Enfermagem, é indígena da etnia Borari, de Alter do Chão. Ela trabalha com populações vulneráveis da periferia de Belém com HIV/AIDS, há dois anos. A aluna contou sua vivência na FCM. “Está sendo incrível ficar no laboratório da professora Laura. Conseguimos fazer várias técnicas, como testes RT-PCR, que já usamos na Covid; e ELISA, que também já trabalhamos em Belém, mas ver aqui é diferente”. Já com relação ao programa como um todo, ela enfatiza o valor das trocas. “O CAPAm nos proporcionou muita coisa boa. Eu já imaginava que a Unicamp teria estrutura diferente da nossa realidade. É importante fazer esses contatos e pesquisas com parcerias daqui. A população nortista é carente, então se nós conseguirmos desenvolver projetos que os beneficiem é ótimo; fora a oportunidade pessoal para o meu currículo”.

Alunos observam células ao microscópio no Laboratório de Oncologia Molecular. Foto: Karen Menegheti/ARPI

Para a aluna Conceny Ribeiro, do curso de Medicina do campus de Altamira, que vêm de uma comunidade quilombola, a Unicamp é uma referência médica e em pesquisa no Brasil e no mundo. “Estou aproveitando as atividades do laboratório, compartilhando nossa pesquisa e conhecendo a das doutorandas. Vai enriquecer nosso currículo, além de ser uma experiência única, profissional e pessoal”. Ela estuda a exposição ao metilmercúrio na região de Volta Grande do Xingu. “Lá, é muito endêmica a ação garimpeira. Estamos avaliando o impacto dessa atividade na população mais carente, ribeirinha e indígena, que é a quem mais sofre”.

Jociara Costa cursa licenciatura em Educação no Campo com ênfase em Ciências Naturais. Estuda no campus de Abaetetuba, e sua pesquisa trabalha com políticas educacionais para ensino médio e juventude. Ela também destaca a grande estrutura de pesquisa encontrada aqui. “Está sendo incrível. É a primeira vez que estou tendo uma experiência dessa dentro de um laboratório de Biologia”. A aluna lembrou a importância de levar conhecimento de volta para a Universidade, bem como para sua comunidade. “A pesquisa científica ajuda muito a gente. Eu pretendo absorver o máximo de conhecimento para levar e compartilhar com meus colegas de turma, além de repassar os saberes para minha comunidade. Na região temos 72 ilhas, então também estou representando minha comunidade ribeirinha aqui”.

Atividades no GEMOCA

Na última sexta-feira (3), os alunos da CAPAm estiveram no Laboratório Oncologia Molecular, coordenado pelo professor José Barreto Carvalheira, acompanhados da biomédica Elisangela Teixeira. Elisangela é aluna do doutorado em Clínica Médica da FCM, orientada pela professora Laura Ward. Ela explicou a atividade desenvolvida. “Nós observamos células de carcinoma papilífero da tireoide. Primeiro, descongelamos as células e aplicamos no meio de cultura. O material foi manipulado no fluxo, ambiente controlado que evita contaminação, para que depois os alunos pudessem observá-las no microscópio. Em seguida, as células foram acondicionadas na estufa, onde há controle de temperatura e gás carbônico, simulando um organismo”.

Células no meio de cultura (detalhe). Foto: Karen Menegheti/ARPI

A doutoranda enxerga como positivo o projeto com os alunos do CAPAm. “Para gente está sendo uma experiência de troca muito legal. Eles têm uma cultura muito forte em relação à terra. Sem contar que é ótimo para nós ensinarmos o que fazemos, despertando o interesse para a ciência e a pesquisa. Estamos com ideias de parcerias, avaliando o que a gente já faz aqui, aplicado à população do Norte. Esse contato foi muito importante, tanto para o GEMOCA quanto para a vida deles, que consideram a Unicamp uma referência. A Pró-Reitoria de Pesquisa trazer esses alunos por meio do programa acabou facilitando muito essa relação”.

A professora Laura também enalteceu a iniciativa. “É o primeiro ano que o GEMOCA recebe esses alunos. É uma experiência realmente surpreendente. Além de serem indivíduos muito interessantes, trouxeram uma riqueza de experiências, vida e trabalho fantásticas. Nós propusemos, inclusive, várias colaborações, porque eles têm contato muito grande com uma população que raramente é investigada do ponto de vista da Genética Molecular, o que pode trazer muitos dados interessantes”.

Continua a docente: “Todos eles vieram com uma boa bagagem científica. Chama muita atenção o empenho que eles têm em saber mais, adquirir conhecimento e fazer parcerias. Espero que possamos efetivá-las. Essa experiência com os estudantes da UFPA é sensacional e merece aplausos”, disse Laura, lembrando que o laboratório também recebe alunos de ensino médio no programa “Ciência & Arte nas Férias” desde o seu início.

Visita

Em 15 de fevereiro, a professora Laura Ward (FCM) acompanhou, no GEMOCA, a visita de autoridades da UFPA: a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Maria Iracilda da Cunha Sampaio, e a professora do programa de pós-graduação em Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Jane Felipe Beltrão.

Jane Beltrão, Maria Iracilda Sampaio, Jociara Costa, Gabriel Braga, Elisangela Teixeira, Laura Ward, Conceny Ribeiro e Marielna Silva. Foto: divulgação/GEMOCA

CAPAm

Realizada pela parceria entre a Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, a Universidade Federal do Pará e o Banco Santander, a iniciativa traz para Campinas estudantes da UFPA, membros de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas para um mês de atividades científicas e culturais junto a pesquisadores e alunos da Unicamp. O programa tem o objetivo de enriquecer os trabalhos desenvolvidos na universidade com novos saberes e perspectivas dos jovens paraenses. 



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