De 29 a 31 de outubro aconteceu em Montreal, Canadá, a International Conference on Residency Education (ICRE). O evento é promovido pelo Royal College of Physicians and Surgeons of Canada e se considera o maior evento científico voltado a discutir os problemas, as boas experiências e as propostas de encaminhamento para o futuro da residência médica. O tema do ICRE 2022 foi “Together Again: A Community Redefining Residency Education”.

As atividades da Conferência se dividiram em diversos eixos, que mostram os temas mais candentes nas discussões de residência médica no mundo. Incluíram: acreditação, admissão, avaliação, educação baseada em competências, métodos de pesquisa em educação, equidade-diversidade-inclusão, desenvolvimento docente, bem-estar do residente, políticas de saúde e formação na residência, educação para liderança, acompanhamento de dados sobre aprendizado e para seleção (learning analytics), simulação na formação, aspectos pedagógicos na formação do residente, tecnologias inovadoras na formação e inovações e boas práticas.

“Neste ano de 2022, com a retomada do evento presencial, minha participação aconteceu no painel da sessão plenária inicial, intitulado: “A world of residency education”. Éramos quatro convidados, que deveriam discutir as experiências do Brasil, Coreia, Estados Unidos e Reino Unido em quatro tópicos – processos de seleção, bem-estar do residente, a cultura de treinamento e o residente como força de trabalho em saúde. Havia um facilitador e, antes de nossas intervenções, era mostrado um vídeo muito curto em que residentes de diferentes lugares nos desafiavam a falar sobre as questões mais candentes dentro destes tópicos. Foi uma excelente dinâmica que prendeu e motivou a participação dos mais de mil participantes na plateia”, relatou Eliana Amaral, docente e coordenadora do Núcleo de Avaliação e Pesquisa nas Profissões da Saúde (NAPES) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

“Durante a sessão, bastante elogiada, falou-se sobre a necessidade de rever estratégias para lidar com o bem-estar de residentes e seus preceptores e mudar a cultura hierárquica e rígida, sem supervisão adequada, como se vivencia em programas de residência ao redor do mundo. Também foi bastante debatida a necessidade de divisão de tarefas e trabalho interprofissional, a necessidade de regular a oferta de vagas nas diferentes áreas a depender das necessidades loco-regionais, com processos indutivos de formação. A seleção de residentes tem sido um aspecto que preocupa e se sugere incorporar “learning analytics”, com dados de acompanhamento do desenvolvimento durante o curso de medicina, junto com dados sociodemográficos, indo muito além de seleção por desempenho cognitivo, e buscando minimizar o viés dos processos atuais, incluindo sua inequidade”, prossegui a docente.

“Minha contribuição incluiu explicar a grande diferença nas autonomia e autorização de prática profissional autônoma que nosso egresso de graduação tem. Nos demais países participantes, o curso de medicina não é profissionalizante e a residência tem a conotação de ser a etapa de desenvolver autonomia para prática, o que torna a residência etapa obrigatória, diferente do Brasil. Também discutimos como isso tem impactado o interesse pela residência médica como formação complementar para especialidades. E como a expansão das escolas no Brasil (355, quase dobro dos EUA e próximo à Índia, 2º lugar no mundo) pode afetar a formação em especialidade e tem gerado novos ‘formatos’, com cursos de curta duração”, finalizou Eliana. 

O ICRE 2023 vai ser realizado em Halifax, Canadá, de 19 a 21 de outubro de 2023. O tema será “From Caring For Patients to Protecting Our Planet: Advocacy in Residency Education”.