Células-tronco: Comitê avalia pesquisas
Publicado por: Camila Delmondes
01 de dezembro de 2015

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O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp recebe, mensalmente, 90 projetos de pesquisa envolvendo seres humanos. O CEP avalia desde o recrutamento de voluntários até pesquisas – e seus resultados – em todas as áreas do conhecimento.

Criado em 1996 pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), o CEP é composto por um colegiado interdisciplinar e independente de profissionais que representam a sociedade. Sua principal função é garantir os direitos e a dignidade dos voluntários das pesquisas, conforme resoluções do CNS. É garantido, por exemplo, o recrutamento de indivíduos de todas as etnias e a liberdade de participação em qualquer procedimento de uma pesquisa, seja uma entrevista ou o uso de um novo medicamento.

Além de pesquisas desenvolvidas no campus, o CEP analisa projetos de instituições do Rio de Janeiro, Goiânia e de pesquisadores de outros Estados, encaminhados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a coordenadora do CEP, a geneticista Carmen Silvia Bertuzzo, fala sobre as questões éticas que envolvem as pesquisas com células-tronco.

Jornal da Unicamp Por que as pesquisa com células-tronco geram tanta polêmica?

Carmen Silvia Bertuzzo A pesquisa com células-tronco tem levantado dois tipos de polêmica. A primeira é a de divulgá-la como já sendo uma via terapêutica, capaz de curar doenças. Na verdade, isso ainda não acontece. Há muitas coisas obscuras que precisam ser investigadas. Infelizmente, tem sido divulgado que as células-tronco são uma grande revolução científica e a solução para vários problemas. Não estamos nesse ponto. Ainda estamos na pesquisa básica, engatinhando.

O segundo ponto polêmico é a divisão das células-tronco em dois grandes grupos: as células-tronco de adultos e as células-tronco embrionárias.

JU – Por que a divisão é controversa?

Carmen – As células-tronco de adultos não trazem grandes problemas éticos em relação ao seu uso, pois elas estão presentes, por exemplo, no sangue de cordão umbilical, que é jogado fora. Ele é riquíssimo em células-tronco. Temos, no Hemocentro da Unicamp, um Banco de Sangue de Cordão Umbilical que fornece material para algumas pesquisas que são desenvolvidas na Universidade.

Já as células-tronco embrionárias geram polêmica porque, para utilizá-las, é preciso destruir o embrião. E aí entra o aspecto religioso, que gera muita discussão.

JU – Em que medida este componente religioso exerce influência?

Carmen – Mesmo com o consentimento do casal para a utilização dos embriões congelados, a pergunta que todos fazem é: “Quando se inicia a vida?” No caso dos países católicos, acredita-se que a vida se inicia logo na fecundação. Outros grupos acreditam que a vida começa lá pela vigésima quarta semana de gestação.

JU – A ciência já tem uma resposta para isso?

Carmen – Não, não tem. Não há nada científico que comprove quando o embrião passa a ter vida. Cada grupo escolhe o parâmetro a ser usado.

JU – Existem muitas pessoas que querem ser voluntárias em pesquisas com células-tronco adultas. Como é feita essa seleção?

Carmen – Dentro do projeto, o pesquisador define os critérios de inclusão e de exclusão dos indivíduos. O pesquisador é responsável por avaliar esse paciente e ver se ele se encaixa nos critérios para poder participar da pesquisa. O CEP analisa, por exemplo, se o indivíduo está bem informado sobre a pesquisa e os riscos que corre, bem como os benefícios de sua participação.

JU – Como é feita a divulgação do recrutamento?

Carmen – Normalmente pela internet, na página da FCM, ou por meio de cartazes espalhados pelo campus.

JU – Dá para estimar em quanto tempo surgirão resultados mais concretos das pesquisas desenvolvidas nessa área?

Carmen – É difícil fazer uma estimativa nesse sentido, porque tudo depende de como as coisas andam, principalmente no que diz respeito aos investimentos. Em 1980, por exemplo, quando se começou a falar em terapia gênica, a estimativa era de cinco anos para substituir um gene defeituoso por outro. Já se passaram mais de 20 anos e ainda estamos pesquisando. No caso das células-tronco adultas, talvez nos próximos dez anos tenhamos alguma coisa estabelecida, pois o Brasil está bem situado no cenário internacional.

JU – O Supremo Tribunal Federal está para decidir se aprova ou proíbe as pesquisas com células-tronco embrionárias. A senhora acredita que elas serão aprovadas?

Carmen – De acordo com os profissionais que trabalham com reprodução humana na Unicamp, depois de três anos congelados os embriões se tornam menos viáveis. Mesmo que eles retornem ao útero materno, esses embriões têm pouca chance de se desenvolver. Por isso, acho que o Supremo irá manter a decisão do Congresso Nacional e liberar as pesquisas com células-tronco embrionárias.



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