CCAS da FCM lança boletim com perfil epidemiológico do diabetes em Campinas
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
06 de novembro de 2023

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Na tarde do último dia 26, ocorreu no anfiteatro da Pós-graduação da Faculdade de Ciências Medicas (FCM) da Unicamp o lançamento do Boletim ISACamp 2014/15: Perfil epidemiológico do diabetes em Campinas. O material foi produzido pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Campinas. Na ocasião, esteve presente Andrea Von Zubem, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa/SMS).

O boletim, apresentado no V Encontro do projeto temático “Desigualdades sociais em saúde nos municípios sedes de duas metrópoles paulistas: mensuração, monitoramento e análises”, apresenta o perfil epidemiológico do diabetes dos moradores da área urbana de Campinas, utilizando os dados coletados no inquérito de saúde ISACamp 2014/15. A publicação traz informações sobre: prevalência do diabetes na população, limitações e complicações que a doença provoca, práticas adotadas para seu controle e saúde mental das pessoas diabéticas. O material impresso será distribuído pela Secretaria Municipal de Saúde.

“Com o inquérito, é possível fazer estimativas para o conjunto da população de Campinas, com o objetivo de avançar o conhecimento sobre os dados que vêm sendo levantados. Desde o início, tivemos a preocupação com o planejamento da gestão, que se reflete com o lançamento desses boletins e outras publicações”, explica a professora Marilisa Barros, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM e coordenadora do CCAS.

Professora Marilisa Barros, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM. Foto: Karen Moraes/ARPI

O boletim

O Diabetes Mellitus constitui, na atualidade, importante problema de saúde pública, com 8,8% da população adulta mundial apresentando a doença. Em Campinas, 7,8% dos moradores com 10 anos ou mais já foram diagnosticados com a doença, o representa 77.455 pessoas. Desses, 0,6% são adolescentes, 5,3% adultos e 26,6% idosos.

Considerando o estado nutricional, a prevalência da doença é 89% maior nos obesos quando comparados aos indivíduos com peso normal (eutróficos). Considerando apenas os diabéticos a partir de 20 anos, 27,6% estão com sobrepeso, e 43,2% com obesidade. Ao separar por faixa etária, 59% dos idosos diabéticos tem excesso de peso; entre os adultos, o percentual sobe para 83,5%.

Com relação ao agravamento da doença, 21,2% dos indivíduos diabéticos apresentam uma complicação relacionada ao diabetes e, 12%, duas complicações ou mais – neste último grupo, a incidência é maior entre aqueles sem plano de saúde (16%), versus os que possuem o serviço (5,9%). Ao ponderar o tipo de complicação apresentada, 27% dos diabéticos relataram problema de vista. “A população mais pobre é aquela que mais depende da nossa rede para reduzir, na medida do possível, a ocorrência dessas complicações”, afirma Marilisa.

Boletim impresso será distribuído pela Secretaria de Saúde do município. Foto: Karen Moraes/ARPI

Entre as práticas de controle do diabetes, foi observada alta prevalência de consulta de rotina (81,6%) e de uso regular de medicamento oral ou insulina (92,4%). Outras medidas, como dietas para controle da doença e para perda de peso, prática de atividade física e medição da glicemia, com frequência, apresentam prevalências mais baixas. “A rede de Campinas tem propiciado mais acesso ao medicamento e às consultas, mas, na promoção de comportamentos saudáveis, não tem conseguido a mesma eficiência”, declara Marilisa, lembrando que a questão também depende de outros fatores como a condição socioeconômica e hábitos dos indivíduos.  

Uma das novidades do boletim foi a preocupação com a saúde mental das pessoas com diabetes. Foi observado que a presença da doença associa-se ao aumento dos problemas emocionais e do transtorno mental comum (TMC). Isto se dá, em especial, com o aumento das limitações (65,2% dos afetados de maneira grave relataram problema emocional, e 38,7%, TMC) e das complicações (48,8% dos doentes com complicação tiveram problemas emocionais e, 24,5%, TMC).  

Comparando-se a prevalência do diabetes nos três inquéritos ISACamp (2001/02, 2008/09 e 2014/15) observa-se a tendência marcante do crescimento da doença, em ambos os sexos e em várias faixas etárias – o percentual saltou de 3,2% da população de 20 anos ou mais, na primeira pesquisa, para 7,9%, na última). Segundo Marilisa, o aumento não se dá somente devido ao maior diagnóstico da doença, mas também a seu crescimento, de fato, na população.  

Por fim, os achados do boletim ressaltam a importância de que os serviços de saúde, em especial o SUS, atuem no sentido de promover a adoção de estilos de vida mais saudáveis para a população em geral, e para os diabéticos, no sentido de evitar a doença e suas consequências.

Andrea von Zubem: importante olhar para as informações do boletim e a partir daí planejar políticas. Foto: Karen Moraes/ARPI

Para Andrea Von Zubem, a parceria da FCM com a SMS é extremamente importante para a produção conjunta do boletim, visando refletir sobre políticas públicas em saúde. A diretora afirma que a Secretaria tem feito um grande trabalho com as doenças crônicas prevalentes, como o diabetes. “A ideia de mais pessoas pensando em políticas é essencial. O maior objetivo desses dados do boletim é refletir em alternativas para melhorar”, declara.

O ISACamp

O Inquérito ISA-SP, projeto multicêntrico da Fapesp, começou em 2001 reunindo os municípios de Campinas, Botucatu, Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Taboão da Serra, além do distrito Butantã de São Paulo. Em Campinas, os inquéritos continuaram nas edições de 2008/2009 e 2014/2015 e 2022/2023. Por meio de visitas a uma amostra aleatória de domicílios, os pesquisadores coletam informações sobre o perfil sociodemográfico que prevalece em vários indicadores de saúde da população.

Palestra com Marcio Pochmann

Na sexta-feira, em continuidade ao V Encontro do projeto temático sobre desigualdades sociais do CCAS, houve a palestra “A concentração de renda no Brasil e as desigualdades nas condições de vida”, com o presidente do IBGE, Marcio Pochmann.

O palestrante aponta que o Brasil foi o segundo país que mais cresceu entre os anos 1930 e 1970, montando uma base industrial comparável a dos Estados Unidos. “Porém, a partir do ingresso do Brasil na globalização, fomos perdendo capacidade de produção interna. No final dos anos 1980, o país tinha a sexta maior indústria do mundo; hoje, temos a 16ª”. Ele exemplifica com as importações: o Brasil compra cerca de 90% dos insumos da área da saúde do exterior.

Marcio Pochmann apontou algumas barreiras que impedem o Brasil de alcançar maior igualdade. Foto: Karen Moraes/ARPI

Segundo Marcio, embora os programas de transferência de renda nos últimos anos tenham possibilitado certa redução da desigualdade, hoje estamos com índices similares aos de 1960, quando o censo começou a considerar a renda da população. Desse modo, para o presidente do IBGE, cabe ao estado gerir a desigualdade com políticas públicas, aliviando a carga tributária sobre os mais pobres. Além disso, há o entendimento de que desigualdade também abarca educação e trabalho, e que questões como a cor da pele afetam diretamente esse acesso.

“Gerir desigualdade nesta década é olhar um projeto em que o Brasil modificaria a sua entrada na divisão internacional trabalho: quem produz e exporta bens e serviços digitais gera oportunidades de melhores empregos, mais vinculados à educação de quem se forma. A outra coisa é repensar a produção à qual nós estamos vinculados atualmente, uma estrutura especializada em bens simples”, finaliza o presidente do IBGE.


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