Aula Magna da pós em Saúde Coletiva da FCM apresenta panorama da Saúde no Brasil aos novos ingressantes
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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Na manhã da última quarta-feira (4), o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp recebeu seus novos alunos com uma série intensa de atividades. Além de introduzir os estudantes no ambiente de funcionamento do curso e apresentar os espaços de representação discente, a programação contou com Aula Magna da presidente do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) Ana Maria Costa, que também é coordenadora geral da Associação Latino-americana de Medicina Social (ALAMES) e docente da Escola Superior de Ciências da Saúde, no Distrito Federal.

Acompanharam a recepção dos novos mestrandos e doutorandos da FCM: a coordenadora da Comissão de Pós-graduação da FCM, Rosana Teresa Onocko Campos, o coordenador do curso de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Nelson Filice de Barros, o professor do Departamento de Saúde Coletiva (DSC), Gastão Wagner de Sousa Campos e o presidente do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (IDISA) Nelson Rodrigues Santos, professor colaborador do DSC, um dos fundadores e militante do Sistema Único de Saúde (SUS). A recepção foi organizada pelos alunos veteranos do curso, que atuam como representantes discentes na Congregação, Comissão de Pós-graduação, Departamento de Saúde Coletiva e Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da FCM.

Aula Magna

Em sua exposição, a presidente do CEBES, Ana Maria Costa, fez um histórico do campo da Saúde Coletiva, constituído em meados da década de 1970 e oriundo de áreas como a polícia médica, higienismo, saúde pública e medicina preventiva e social. Dentre os pontos marcantes da aula “inspiradora e ao mesmo inquietante” – como definiu o colega de área e coordenador do curso de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Nelson Filice de Barros – a pesquisadora falou sobre uma mudança inevitável de paradigma na saúde da população, que mudará o foco do atendimento assistencial da cura para o cuidado em função do envelhecimento populacional.

“Se observarmos a representação gráfica das mortes ocorridas entre 1930 a 2007, com uma prospecção para 2030 das morbidades que mais matam a população, perceberemos um aumento muito grande das infecções respiratórias superiores (as pneumonias), das doenças crônico-degenerativas e, para o nosso espanto, do Alzheimer e outras demências senis. Esse quadro apresenta, minimamente, a necessidade de uma revisão clara sobre qual sistema de saúde será preciso construir para cuidar dessas novas demandas”, observou Ana Maria.

De acordo com a pesquisadora do CEBES, daqui a 20 anos, caso não sejam implementadas alterações tecnológicas significativas frente à mudança da estrutura demográfica em curso, os gastos em Atenção à Saúde poderão aumentar em cerca de 37%. “Haverá um uso contínuo dos serviços de saúde pelas pessoas mais velhas e com doenças crônicas. Os processos de trabalho, as equipes profissionais, os espaços institucionais, o tratamento domiciliar e os cuidados paliativos precisarão ser repensados”.

A Saúde enquanto bem de consumo foi outro ponto bastante criticado por Ana Maria, em sua exposição. De acordo com ela, no plano internacional, a chamada “cobertura universal”, proposta presente em recomendações e documentos oficiais de instituições e organizações mundiais – “Todos aqueles cuja visão é apressada e acrítica, aplaudiria um mecanismo tão perverso disfarçado em um nome tão simpático. O que se chama de cobertura universal em saúde é, na verdade, uma estratégia de compra de pacotes de serviços que são buscados no mercado, ou seja, que extrai o papel do Estado e o lugar do Direito e coloca a Saúde como um bem de consumo qualquer”.

A aula terminou com uma série de indícios apontados por Ana Maria como sugestão de futuros temas de pesquisa e de ativismo político, dentre eles: a acumulação privada de capital na saúde, de diferentes modos e pelos governos dos três níveis federativos, e a redução da intervenção estatal sobre o mercado. “Precisamos recuperar os debates relativos à questão democrática da saúde e o seu lugar dentro do contexto de desenvolvimento; e retomar com força a base de pensamento da reforma sanitária que discute o modelo de verticalização, trabalhar com coragem na mudança de gestão do sistema que possa enfrentar as questões do burocratismo, precariedade do trabalho e as relações interfederativas”, afirmou.



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