Aula inaugural da pós-graduação da FCM aborda revolução da longevidade
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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Mais do que prevenir e tratar, o País precisa desenvolver uma cultura de cuidado, se quiser fazer frente à revolução da longevidade que está em curso. O apontamento é do gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil (ILC-BR) e foi apresentado na última semana, durante aula inaugural dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 1995 a 2008, o pesquisador disse que o Brasil está entre as nações em desenvolvimento que mais irão envelhecer nos próximos 30 anos.

“Temos hoje em escala global, mais pessoas vivas com 60 anos ou mais, do que a somatória de todas as pessoas que já viveram até essa idade ao longo da história. De 1950 a 2050 teremos um aumento de quase quatro vezes da população global. No caso da população com 60 anos ou mais, este aumento será de cerca de 10 vezes. Na faixa dos 80 anos, esse aumento sobre para 26”, disse.

O aumento da expectativa de vida deu um salto nos últimos 50 anos e, de acordo com o pesquisador, o fenômeno tem potencial para impactar a sociedade em diferentes aspectos, assim como acontece nas grandes revoluções. “Será um mundo muito diferente em função do aumento populacional, sobretudo, das pessoas idosas. Isso é revolução”, explicou.

Falando para um público diverso de pós-graduandos de várias especialidades, Kalache explicou que o envelhecimento deve ser preocupação de todos e não apenas das pessoas mais velhas. “Estou falando do futuro de vocês. Um futuro que já é muito presente. Se hoje vocês estão próximos dos 35 anos, em 2050 estarão perto dos 60. Não me acusem de advogar em causa própria”, brincou.

Não é apenas o fato de as pessoas terem aumentada a expectativa de vida que preocupa o pesquisador, mas também a velocidade em que ela se dá. “Aquele bebê que nasceu no Brasil há quase 70 anos, e que hoje está vivo, é um fenômeno. Não era para ele estar aqui”, exemplifica. Isso se deve ao aumento da expectativa de vida que subiu de 43 anos, em 1945, para 75 anos, na atualidade. “São 32 anos a mais de vida”, disse. Além disso, ao passo em que a expectativa de vida sobe, as taxas de fecundidade caem vertiginosamente, indo de 5,8, em 1975, para 1,8, em 2012. “Em pouco tempo o Brasil vai atingir uma marca inédita e revolucionária, que é o fato de um país, ainda em desenvolvimento, começar a encolher a sua população”, afirmou.

Falar em esperança de vida ao nascer implica, também, falar em qualidade de vida. Para Kalache, viver mais não é, necessariamente, sinônimo de viver mais e com saúde. “A esperança de vida ao nascer, em 2010, para os homens, era de 69 anos de idade, mas com saúde era de apenas 61. As mulheres, cuja expectativa era de 76 anos, viveriam com saúde 10 anos a menos”.

Segundo o pesquisador, ainda que as causas externas e as doenças infecciosas respondam por um grande número de mortes no país (26%), as doenças crônicas são as que mais matam no Brasil na atualidade (75%). A morte seria nesse sentido, cada vez mais, um evento da velhice. No entanto, Kalache mostrou dados da OMS, de 2002, que revelaram não ser a idade o principal desencadeador das doenças crônicas. “Isso está muito mais relacionado à maneira como e onde vivemos, trabalhamos ou desenvolvemos nosso curso de vida. São determinantes, tais quais, o estilo de vida ou condições ambientais, que fazem com que alguém da mesma idade tenha risco cinco ou dez vezes maior de desenvolver uma doença em relação à outra pessoa”, pontuou.

Na visão de Kalache, a elaboração de políticas públicas adequadas pode contribuir para o enfrentamento dos problemas e demandas decorrentes do aumento da longevidade, bem como do encolhimento da população. “Se não melhorarmos o ensino público, por exemplo, vamos formar um batalhão enorme de pessoas que não terão oportunidades, e que não vão contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país”.

Saúde, conhecimento, amigos e boas condições financeiras foram apresentados pelo especialista como condições necessárias ao bom envelhecimento. “Não adianta a gente esperar que, por milagre, a aposentadoria vá dar conta de todas as suas necessidades. É importante que a sociedade esteja preparada para fazer com que esses anos tenham sentido, e que não sejam apenas anos vazios e sem qualidade”. 



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