Anamaria Tambellini, pequisadora da Fiocruz, fala do período de Ditadura Militar
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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A médica Anamaria Testa Tambellini, presidente da Comissão da Verdade da Reforma Sanitária (CVRS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esteve na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), no dia 15 de agosto, a convite da Comissão da Verdade e Memória “Otaviano Ianni” (CVMOI) da Unicamp. Docente do então Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM, de 1967 a 1975, Anamaria falou sobre o clima de perseguição vivido por ela e outros 19 companheiros de trabalho durante a Ditadura Militar, que os obrigou a deixar a universidade e a cidade de Campinas, na medida em que os programas em que atuavam eram desmantelados por força política.

“Eu não digo que é um prazer estar aqui porque a gente sempre pensa que muitas coisas não deveriam ter acontecido como aconteceram. Eu hesitei muito em vir fazer esse depoimento, mas minha função na Comissão da Verdade é, justamente, convencer as pessoas de que todos os relatos são importantes. Trabalhamos com todas as pessoas que de alguma forma foram afetadas pela Ditadura, não apenas aquelas torturadas e mortas, mas também aquelas que tiveram seus direitos cerceados”, disse.

Segundo explicou Anamaria, a CVRS também investiga a colaboração de profissionais da saúde com o Regime Militar. Contribuição esta, que teria resultado em tortura e morte dentro dos hospitais militares. “Sabemos que isso aconteceu, inclusive, em alguns hospitais universitários. Mesmo onde a gente achava que jamais haveria essa perversidade contra as pessoas”, enfatizou.

O professor do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, Gastão Wagner de Sousa Campos, participou do evento na FCM e disse que as áreas de atuação Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental, escolhidas pela professora Anamaria,  apresentam  conflitos de interesse, dificuldades de investigar, trabalhar e intervir. “Ela seguiu e segue defendendo as pessoas com quem trabalhou e trabalha, dentro de uma ideologia dominante e contemporânea do produtivismo, da competição cada vez mais exacerbada, em que  as pessoas valem pouco e  a acumulação de capital passou a ser o critério de mérito principal”, destacou Gastão.

“Ninguém aqui era guerrilheiro ou fazia apologia de guerrilha”, esclareceu Anamaria. Segundo ela, o método inovador de propor e conduzir novas abordagens no ensino e na assistência, já em meados de 1970, era visto com cunho político pelas autoridades locais, que não compreendiam as discussões realizadas pelos docentes e estudantes da Medicina Preventiva, com os moradores da periferia de Campinas e de cidades da região.

“O que fazíamos aqui, outros grupos faziam pelo Brasil. Acreditávamos que um dia a democracia seria restaurada e que nós tínhamos, não só que pensar, mas também experimentar formas para o serviço de assistência e de docência, que fossem compatíveis com a democracia”, disse Anamaria.

Ela citou como exemplo, as atividades desenvolvidas no Jardim das Oliveiras e no município de Paulínia, onde os estudantes visitavam os moradores em suas residências e realizavam diagnósticos de saúde tendo como ênfase a relação existente entre condições de vida, situação de saúde e determinantes sociais. “Minha função era discutir com o paciente sobre a estrutura epidemiológica das doenças dele. Tínhamos claramente a intenção de fazer com que as pessoas se apropriassem dos conhecimentos de saúde. Acreditávamos que a saúde da pessoa tinha que ser controlada por ela”, disse Anamaria.



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