Telemedicina do HC apresenta centésimo caso para vários países
Publicado por: Camila Delmondes
01 de dezembro de 2015

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No dia 2 de março, em plena calourada, 20 alunos do primeiro ano do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp acompanharam de uma discussão de caso clínico diretamente com Miami, Colômbia, Iraque e outros países. Era o caso raro de uma vítima de acidente de trabalho atendido no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e que apresentava distúrbios hematológicos. Este foi o centésimo caso clínico debatido por meio do sistema de telemedicina nas reuniões Trauma Tele Grand Rounds, que são realizadas semanalmente nos últimos dois anos, com a participação de 40 centros, de 16 países.

De início, os alunos que não conheciam essa tecnologia, ficaram desconfiados. Mas “facebookeiros” e “twitteiros”, adoram. O médico Antonio Carlos Marttos Jr., professor da Universidade de Miami, conversou com os alunos diretamente da sua sala de reuniões e apresentou um vídeo sobre as aplicações da telemedicina. Em seguida, o caso brasileiro foi apresentado pelo médico assistente da disciplina de cirurgia do trauma, Bruno Monteiro Tavares Pereira. O trabalho acaba de ser publicado eletronicamente no periódico Haemophilia, em parceria com médica hematologista Margareth Ozelo e outros colaboradores da UTI do trauma do HC.

Bruno também é autor da pesquisa “Experiência inicial de um hospital universitário utilizando a telemedicina na promoção de educação através de videoconferências”. De acordo com a pesquisa, os serviços de telessaúde e telemedicina estão avançando rapidamente, com um espectro cada vez maior de tecnologias da informação e comunicação que podem ser aplicadas de forma ampla para a saúde da população, bem como para a educação médica.

Por meio de um banco de dados, foram analisadas, retrospectivamente, to­das as conferências realizadas no HC, de setembro de 2009 a agosto de 2010, em todas as especialidades. Um total de 647 alunos, médicos e professores participaram das reuniões de telemedicina realizadas, em média, mensalmente. A cirurgia do trauma e reuniões sobre segurança dos pacientes foram os temas mais comuns discutidos nas reuniões de teleconferência, correspondendo por 22% e 21% do total de chamadas.

“Nossa experiência com as reuniões de telemedicina aumentou o interesse dos alunos, ajudou a nossa instituição a acompanhar e discutir protocolos que já são aceitos em todo o mundo e estimulou nossos professores a promover pesquisas relacionadas à telemedicina em suas próprias especialidades, mantendo-os atualizados. Essas reuniões, com envolvimento de alta tecnologia, encurtaram as distâncias dentro de nosso país e com outros centros de referência no exterior. Esta proximidade virtual permitiu discussões com alunos e residentes sobre estágios internacionais a fim de aumentar seu conhecimento global e melhorar a sua educação dentro da própria instituição”, explicou Bruno.

A pesquisa contou também com a participação de Thiago Rodrigues Araújo Calderan, médico-assistente da cirurgia do trauma; Marcos Tadeu Nolasco da Silva, coordenador da divisão de telemedicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp; Antonio Carlos da Silva, técnico em computação em telemedicina do HC; Antonio Carlos Marttos Jr. e Gustavo Pereira Fraga, professor e coordenador da área de cirurgia do trauma da FCM.

Segundo Gustavo Fraga, em alguns centros já existe a teleconsulta em que um profissional à distância, em contato com uma equipe local, pode ver o doente, fazer perguntas, inspecionar determinadas lesões e até orientar o médico local a fazer determinado tratamento ou procedimento. Na Flórida, exemplificou, a telemedicina é usada no atendimento pré-hospitalar. As equipes enviam os detalhes do evento e atendimento na cena de um acidente, por exemplo, e os médicos do hospital têm acesso às informações e monitoração do doente que está dentro da ambulância.

A Universidade de Miami fica em contato 24 horas com o exército americano em hospitais de campanha e de referência para atendimento de militares e civis traumatizados no Iraque e Haiti. Os médicos que estão no ambiente de guerra e foram previamente treinados podem consultar os cirurgiões do centro de trauma de Miami para discussão de casos e orientação de condutas.

“Na área de ensino está em andamento um projeto do Departamento de Cirurgia que solicitou a aquisição de um equipamento de videoconferência móvel. Dessa maneira, o residente, assistente, enfermeira e fisioterapeuta responsáveis pelo doente apresentam o caso e os demais alunos, residentes e assistentes participantes da visita ficam na sala de videoconferência do HC, interagindo com os profissionais, observando as variações no monitor multiparâmetro, acessando exames complementares e até mesmo acompanhando exames como ultrassom ao vivo”, disse Fraga.

Na área de assistência, a expectativa de Fraga é que mais profissionais participem de projetos de teleconsulta. De acordo com o coordenador da disciplina do trauma já existe sala para esse tipo de assessoria no HC. “Com a reforma da Unidade de Emergência Referenciada essa tecnologia pode ficar disponível nas 24 horas do dia, para auxiliar na regulação dos casos, contra referência, melhor encaminhamento dos doentes e no atendimento pré-hospitalar. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, bem como o Ministério da Saúde, possuem projetos específicos para isso e a Unicamp pode ser uma das pioneiras nesse tipo de assistência”, disse.

Indagado se a telemedicina substituirá o professor em sala de aula, Fraga disse que a relação professor - aluno depende muito do presencial, pois é aí que se percebem as emoções, a interação, o aprendizado.

“Assim como o médico ainda não pode ser substituído por robôs, pois muito se perde da relação médico - paciente, a presença do professor em contato com os alunos é fundamental, principalmente em pequenos grupos. Porém, num auditório repleto de alunos, com uma aula expositiva, a telemedicina é uma excelente ferramenta, pois permite que os alunos tenham contato com professores experts em determinados assuntos, fazer perguntas e interagir com o professor”, concluiu.

Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP



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