Motos são responsáveis por 50% das mortes em Campinas, aponta pesquisa
Publicado por: Camila Delmondes
01 de dezembro de 2015

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Pesquisa realizada no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp demonstra que a taxa de mortalidade envolvendo motociclistas representou 50% dos acidentes fatais ocorridos em Campinas no ano de 2008. Desse percentual, as principais vítimas foram homens de 15 a 39 anos – no caso de condutores e ocupantes. Entre os anos de 1995 a 2008, segundo o estudo, as mortes dos pedestres diminuíram de 55,3% para 29,7%, enquanto as de ocupantes de moto aumentaram de 6,6% para 49,3% no conjunto total de óbitos. De cada mil acidentes que envolveram motos, 685 deles provocaram vítimas e quatro deles ocasionaram a morte de pedestres.

Os dados fazem parte do artigo “Tendência dos acidentes de trânsito em Campinas, São Paulo, Brasil: importância crescente dos motociclistas”, das pesquisadoras Leticia Marín-León, Ana Paula Belon e Marilisa Berti de Azevedo Barros, do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e Solange Duarte de Mattos Almeida e Maria Cristina Restitutti, da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. O artigo foi publicado no Caderno de Saúde Pública.

As informações de mortalidade para a elaboração do artigo foram obtidas pelas autoras do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); as de ocorrências e frota da SETRANSP foram obtidas por meio da EMDEC e as estimativas populacionais foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com os dados da pesquisa, entre 1995 e 2008, houve um crescimento da frota de veículos em Campinas. A taxa de motorização passou de 39 para 61 veículos por cem habitantes. O aumento da frota de motocicletas foi ainda mais expressivo, passando de três para nove motos por cem habitantes neste mesmo período. O percentual total de ocorrência de acidentes com vítimas foi de 19,3% em 1995 e aumentou para 24,8% em 2008. No período analisado, o percentual de atropelamentos, que era de 5,6% em 1995, diminuiu para 4,3% em 2008.

“A motocicleta é o veiculo que mais fere e mata pedestres, os motociclistas matam sete vezes mais pedestres do que os carros”, disse a socióloga e demógrafa Ana Paula Belon.

Como as motocicletas tornaram-se muito usadas na entrega de pequenas mercadorias, vários autores apontam que a pressão de empregadores e clientes por rapidez nesse serviço é fator importante na ocorrência de acidentes de trânsito nesta categoria. No entanto, levantamento da EMDEC em Campinas verificou que de 68 óbitos de motociclistas apenas três eram motoboys. Citando dados de outro estudo, as autoras salientam que, além do uso da moto como instrumento de trabalho, 75% da frota no país é usada para deslocamento ao trabalho ou estudo, em virtude de sua rapidez. A não proibição de circulação de motocicletas entre filas de veículos de quatro rodas em movimento, também é apontada em outros estudos como a principal causa de morte dos motociclistas nas grandes cidades.

“A moto é um veículo instável. Derrapa com facilidade. É necessário experiência para dirigir. As motos vão costurando entre os carros. Motorista e passageiro são igualmente frágeis frente a um forte impacto. Por ser um veículo barato, a família ajuda o jovem a comprar uma motocicleta. Mas, às vezes, eles estão comprando a invalidez ou o caixão do filho”, sentenciou a médica epidemiologista Leticia Marín-León.


Acidentes fatais e legislação

A pesquisa aponta que as mortes por acidentes de trânsito encontram-se dispersas em praticamente toda a área urbana e nas rodovias que cortam a cidade. Entre os acidentes fatais ocorridos em rodovias, destaca-se a região próxima à confluência das rodovias Santos Dumont e Bandeirantes e entre os quilômetros 116 e 117 da Rodovia Prof. Dr. Zeferino Vaz, com concentração de seis a onze acidentes fatais por quilômetro quadrado. Em relação aos não rodoviários, embora haja dispersão das mortes por acidentes de trânsito no município, é possível identificar duas regiões que registraram densidade mais elevada com seis a 11 óbitos por quilômetro quadrado, sendo uma delas a região central da cidade.

“Com a municipalização da administração e gerenciamento do trânsito em Campinas, a EMDEC intensificou a fiscalização do trânsito, com a adoção de equipamentos eletrônicos para o controle da velocidade, aplicação de multas aos infratores, monitoramento dos locais de maior frequência de acidentes para intervenção imediata, como a melhoria na sinalização, entre outras ações, além de ter desenvolvido importantes iniciativas, entre as quais se destacam as campanhas educativas sobre segurança no trânsito”, disse Letícia.

A pesquisa também mostrou que os idosos são as principais vítimas fatais dos atropelamentos. Apesar da letalidade das vítimas de atropelamentos tenha diminuído entre 1995 e 2008, ainda permanece elevado o coeficiente de mortalidade por atropelamentos entre pessoas com mais de 60 anos de idade, sendo de aproximadamente de 40 óbitos por 100 mil habitantes nesta faixa etária. Para Letícia, é extremamente importante que as ações educativas para travessia segura e as operações na sinalização das vias e no calçamento que vem sendo realizadas pela EMDEC sejam intensificadas para combater os atropelamentos, sobretudo, entre os idosos.

“A legislação de trânsito brasileira é muito boa. Entretanto, ninguém é preso por causa de acidente de trânsito. Não há uma fiscalização e aplicação da legislação que faça com que o motorista veja que ele deve ter um comportamento adequado no trânsito”, comentou Ana Paula.

Embora no período estudado, houve avanços nas técnicas cirúrgicas e aumento do atendimento de emergência no local da ocorrência do acidente, proporcionado pelo SAMU e Corpo de Bombeiros, a mortalidade por acidentes de trânsito em Campinas diminuiu apenas até o ano 2005, não atingindo os níveis de países com legislação semelhante à brasileira. Leticia considera que a falta de eficiência na aplicação de punições aos infratores perpetua a elevada mortalidade no trânsito. Os infratores se acostumaram a dar um jeitinho, mediante anulação de pontos, na qual, além dos advogados que se dedicam a esta atividade, também os pais e avós são responsáveis por não haver punições ao aceitarem a transferência dos pontos de seus filhos ou netos infratores. Ainda, no Brasil, a imprensa tem sido pouco eficiente em denunciar os acidentes fatais ocasionados por infrações de pessoas de posição política ou social de destaque.

Cabe a família contribuir na educação dos filhos jovens motoristas no trânsito, evitando que durante os primeiros anos utilizem veículos velozes e vigiando que eles não cometam infrações no trânsito, entre as quais cabe lembrar medidas que evitem que dirijam se tiverem ingerido álcool.

“Para diminuir lesões, invalidez e mortes por acidentes de trânsito, é fundamental a maior agilidade do poder judicial na execução das penalidades por infrações no trânsito”, disse Letícia.

Texto: Edimilson Montalti - ARP/FCM-Unicamp




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