Embora a cânabis tenha uma longa trajetória de uso terapêutico, sua proibição e estigmatização, especialmente no Brasil, dificultaram o acesso ao tratamento. Movimentos sociais recentes e mudanças legislativas, contudo, abriram espaço para o uso medicinal legal da cânabis; ainda assim, barreiras burocráticas e financeiras continuam limitando seu acesso para muitos. Este estudo busca traçar o perfil dos pacientes que acessam legalmente a cânabis medicinal no Brasil. Com a utilização da análise de classes latentes (LCA), identificamos subgrupos de pacientes, contribuindo para discussões sobre como facilitar o acesso e melhorar a qualidade de vida dos usuários. Realizamos uma pesquisa anônima online com indivíduos que utilizam cânabis prescrita para fins medicinais, incluindo cuidadores de menores e de pessoas com deficiência. Os dados foram coletados entre março e abril de 2023 por meio de redes sociais e grupos online, abrangendo informações sobre dados sociodemográficos, padrões de uso, condições médicas, produtos utilizados e métodos de acesso. A LCA identificou subgrupos de pacientes, enquanto a regressão logística multinomial examinou associações com fatores sociodemográficos. Participaram 1.335 pessoas, divididas em cinco classes: (1) Pacientes com Uso Prévio para Saúde Mental (28,1 ); (2) Pacientes para Alívio da Dor (25,5 ); (3) Pacientes com Uso Prévio para Múltiplos Sintomas (23,2 ); (4) Pacientes Neurológicos Assistidos (15,9 ); e (5) Pacientes Psiquiátricos e Neurológicos Assistidos (7,3 ). Cada classe apresentou características únicas em termos de histórico de uso, autonomia, sintomas tratados, formas de acesso e duração do tratamento. Idade, gênero, raça e cor, religião, educação, renda e região geográfica associaram-se significativamente à pertença às classes identificadas. O estudo revelou a heterogeneidade entre os pacientes que utilizam cânabis para fins terapêuticos no Brasil, identificando subgrupos com necessidades específicas. Esses achados destacam a importância de considerar fatores sociodemográficos na prática clínica e no planejamento de políticas públicas para melhorar o acesso e a qualidade do cuidado aos pacientes que dependem desse tratamento.