A hemovigilância é um processo importante para a manutenção da segurança transfusional e para a constante melhoria dos processos. Este estudo é uma análise retrospectiva das planilhas de dados consolidados das reações transfusionais (RT) imediatas no período de 2006 a 2022, afim de consolidar e comparar as informações reportadas ao sistema de hemovigilância do complexo hospitalar da Unicamp e mensurar a repercussão das ações que foram aplicadas no período com a incidência e classificação das RT.
O estudo realizado com base em planilhas com informações consolidadas sobre a frequência de RT por ano de notificação; classificação da RT; unidade de notificação e tipo de hemocomponente relacionado ao evento adverso. A equipe de assistência identificou as RTs, informou ao serviço de hemoterapia, que por sua vez investigou, registrou e notificou durante o período de 2006 a 2022.
Durante o período de estudo, 454.684 unidades de hemocomponentes foram transfundidas no período, 2.572 incidentes transfusionais imediatos reportados ao sistema de hemovigilância da instituição. A incidência média anual foi de 0,56 RT a cada 100 unidades transfundidas, a avaliação mostra uma tendência volátil, com pico em 2018 (0,76/100 transfusões), e acentuada diminuição em 2020 (0,54/100 transfusões). Dos hemocomponentes distribuídos, a maioria (66,72 ) foi composta por concentrados de hemácias (CH), seguido por plasma fresco congelado (PFC) com 25,20 e concentrados de plaquetas (CP) com 8,07 . Contudo, nota-se uma maior incidência de RT relacionadas ao CP (1,3/100) em comparação com as transfusões de CH (0,8/100) e PFC (0,1/100). A reação febril não hemolítica (RFNH) (62,44 ) foi a mais relatada, seguida por de reação alérgica (ALG) (33,05 ), sobrecarga circulatória associada à transfusão (TACO) (2,76 ), lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (TRALI) (0,47 ), reação hemolítica aguda imunológica (RHAI) (0,39 ), dor aguda relacionada à transfusão (DA) (0,23 ), contaminação bacteriana (CB) (0,04 ), reação hemolítica aguda não imune (RHANI) (0,04 ) e hipotensão relacionada à transfusão (HIPOT) (0,04 ). Apenas 0,54 das RT apresentaram outros sinais e sintomas clínicos inespecíficos. A avaliação de RFNH relacionada à quantidade de CH desleucocitado transfundido apresentou redução considerável, em 2006 a taxa foi de 11,7 , em 2022 caiu para 0,85 . A incidência de óbitos associados à transfusão foi de 0,02/100 unidades.
A análise dos resultados sugere que a monitorização através do sistema de hemovigilância e as ações implementadas evidenciam a redução de alguns eventos adversos, como RFNH associada a desleucocitação, como táticas de prevenção.
A avaliação dos dados auxilia na compreensão de tendências e estratégias de ações para minimizar a ocorrência ou recorrência de eventos adversos. É imprescindível a participação de toda equipe de assistência para melhorar continuamente as práticas de transfusão que atendam às necessidades específicas de cada paciente, e mantendo um foco em intervenções educativas na área de medicina transfusional.