Introdução: Existem dados limitados no Brasil sobre gestação ectópica (GE) e gestação molar (GM), demonstrando a importância de se compreender a epidemiologia e manejo dessas circunstâncias nas diferentes regiões do Brasil. Métodos: Esta é uma análise secundária do World Health Organization Multi-Country Survey on Abortion (WHOMCS-A), um estudo de corte-transversal com coleta prospectiva de dados. Foram incluídas todas as mulheres internadas por gestação ectópica e gestação molar em 20 estabelecimentos de saúde no Brasil (10 no Distrito Federal, 7 no Maranhão e 3 em Rondônia). Informações sociodemográficas, sinais clínicos e sintomas, tipos de tratamento e resultados foram obtidos através de análise de prontuário. Além disso, os estabelecimentos de saúde foram categorizados de acordo com a sua capacidade em promover a assistência à tais casos. Os testes de qui-quadrado ou exato de Fisher foram usados para comparar dados categóricos e o de Mann-Whitney para variáveis numéricas Resultados: De um total de 1,868 mulheres, 138 casos foram de GE (7.4 ) e 47 de GM (2.5 ). Quando comparado à gravidade das complicações entre GE e GM, houve uma maior porcentagem de Condições Potencialmente Ameaçadoras da Vida (CPAV) (12/138, 8.7 ) e de complicações moderadas (CM) (52/138, 37.7 ) em casos de gestação ectópica, enquanto esse número foi menor nos casos de GM ( CPAV 2/47, 4.3 e CM 7/47, 14.9 ). Na admissão, 34.1 das gestações ectópicas tinham sinais de irritação peritoneal, sendo o tratamento mais realizado a laparotomia exploradora (82.6 ), enquanto o tratamento mais utilizado nos casos de GM foi a aspiração uterina (82.6 ). Nos casos de GE, unidades de saúde com altos índices de Escore de capacidade padrão para atendimento integral pós-aborto (ECPAIPA) utilizaram mais frequentemente o tratamento medicamentoso com metotrexato (44.2 ) e o tratamento cirúrgico por via laparoscópica (13.6 ). Nos casos de GM, o uso de uterotônicos foi menos frequente nas unidades de saúde com alto ECPAIPA (20.7 ) do que em unidades de saúde com baixo ECPAIPA (88.9 ). Unidades de saúde com alto ECPAIPA utilizado mais ocitocina (83.3 ) do que o misoprostol (16.7 ), enquanto unidades de saúde com baixo ECPAIA utilizam mais o misoprostol (93.7 ) do que a ocitocina (12.5 ). Conclusões: No Brasil, a GE e a GM são causas importantes de morbidade materna. Futuras pesquisas com padronização na seleção de pacientes, na aferição e nos resultados são necessários para melhorar protocolos e, também, para capacitar as unidades de saúde para identificar e tratar essas doenças, de acordo com as características populacionais locais e com as características da unidade de saúde em questão, visto à heterogeneidade das unidades de saúde no Brasil.
Palavra-chave: Complicações na gravidez; Gravidez ectópica; Mola hidatiforme;