A presente dissertação investiga a relação entre a organização do trabalho em saúde na Atenção Básica (AB) e as experiências de sofrimento dos trabalhadores, com foco em um município do interior do Rio de Janeiro. Escolheu-se a pesquisa qualitativa através de narrativas baseadas em dois momentos de coleta de dados - entrevistas semiestruturadas e grupos focais - para explorar as dinâmicas entre trabalhadores e as formas de operação da gestão, destacando como a racionalidade gerencial hegemônica impacta a saúde mental e a satisfação no trabalho. Para referencial metodológico propõe-se o uso do Método Paideia como ferramenta para análise de espaços coletivos e gestão compartilhada. Os resultados apontam que o sofrimento, intimamente ligado à alienação dos trabalhadores, decorre de práticas de gestão que priorizam metas e procedimentos em detrimento do diálogo e da singularização do cuidado. Apesar disto, identifica-se resistências nas práticas cotidianas dos trabalhadores, como o desejo por espaços de escuta e a valorização de interações entre sujeitos da rede. Conclui-se que a relação sofrimento gestão perpassa os processos de alienação do trabalho, de não reconhecimento pela gestão central das demandas dos trabalhadores, da distância entre diferentes categorias de trabalhadores e da busca por atender usuários de forma procedimento-centrada, enquanto as resistências à gestão apontam de forma paralela à proposta do Método da Roda de cogestão como um caminho para a mitigação do sofrimento, resgate do sentido do trabalho e humanização da Atenção Básica no SUS.