Introdução: O diagnóstico de autismo em mulheres ocorre mais tardiamente que em homens, geralmente na adolescência ou vida adulta. Este atraso deve-se à subdetecção do transtorno, pois as práticas avaliativas nem sempre identificam manifestações femininas. A falha no reconhecimento dos sintomas impacta negativamente a qualidade de vida, tornando essencial um diagnóstico oportuno e suporte adequado. Além dos desafios clínicos, o diagnóstico tardio evidencia dificuldades no suporte pós-diagnóstico. Embora traga benefícios como alívio emocional e autocompreensão, persistem barreiras como acesso limitado a serviços especializados e dificuldades em contextos sociais e profissionais. Objetivo: Analisar o processo diagnóstico tardio do autismo em mulheres e as repercussões em suas vidas. Método: Trata-se de um estudo clínico-qualitativo, aprovado pelo CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) sob o parecer nº 5.258.410, com amostra constituída por dezessete mulheres autistas diagnosticadas ao final da adolescência ou vida adulta. Foram realizados três procedimentos: questionário contendo dados clínicos e sociodemográficos; questionário “Escala de Quociente do Espectro Autista (AQ-10)” e entrevista com perguntas norteadoras acerca do diagnóstico e sua repercussão na vida das participantes. Respeitando as variações sensoriais particulares de cada uma, foram oferecidas alternativas de coleta de dados para realização da entrevista (vídeo, áudio ou escrita). Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo, utilizando critérios de relevância e repetição, a partir de leituras flutuantes. Com base nas releituras, emergiram categorias temáticas que se destacaram nos relatos, refletindo aspectos centrais para o objetivo da pesquisa. Resultados: O questionário AQ-10 confirmou a concordância das participantes com o diagnóstico de autismo. A busca por avaliação formal ocorreu devido a casos na família, identificação com relatos de autistas adultos ou suspeitas de conhecidos. As principais barreiras diagnósticas incluíram comorbidades, escassez de especialistas para mulheres, estereótipos, falta de informação no século XX, influência do sexo feminino e mascaramento de comportamentos. Antes, sentiam-se diferentes, enfrentavam sobrecarga sensorial, vulnerabilidade social e dificuldades nas interações sem suporte adequado. Ao recebê-lo, relataram alívio e, em alguns casos, luto. O diagnóstico favoreceu o autoconhecimento, a autoestima e ajustes sensoriais e ambientais. Socialmente, impactou a comunicação, os relacionamentos e incentivou o ativismo sobre o autismo. No entanto, a falta de suporte no trabalho e na educação, além da invalidação, continuaram sendo barreiras. Conclusão: Este estudo destaca a importância de compreender as motivações e os desafios enfrentados no diagnóstico tardio do autismo em mulheres, um processo complexo marcado pela busca por respostas e pela dificuldade de reconhecimento de suas vivências dentro dos critérios convencionais. A falta de informação e a predominância de modelos diagnósticos baseados em perfis masculinos dificultam a identificação precoce, tornando essencial uma abordagem mais sensível às particularidades femininas. Apesar destes obstáculos, a confirmação diagnóstica possibilita autoconhecimento e reestruturação de estratégias para lidar com as demandas cotidianas, mas a ausência de adaptações nos contextos sociais, educacionais e profissionais ainda limita a plena inclusão dessas mulheres. Diante deste cenário, torna-se fundamental o fortalecimento de políticas públicas que reconheçam as especificidades do autismo feminino.