Introdução: O racismo estrutural é determinante da saúde. A satisfação com a assistência ao parto é indicadora da qualidade do cuidado prestado, e a discriminação racial se associa com piores resultados – desde menor satisfação com o parto até a mortalidade materna. Objetivo: abordar racismo institucional com ginecologistas, comparar a mortalidade materna no Brasil e o grau de satisfação com a assistência ao parto segundo a cor de pele. Métodos: conduzimos três estudos: 1. artigo de opinião sobre a presença do racismo na assistência à saúde da mulher. 2. estudo retrospectivo com dados públicos dos Painéis de Mortes Maternas (MM) e de Nascidos Vivos (NV), do Ministério da Saúde. Comparamos as razões de mortalidade materna (RMM) de 2017 a 2022 entre mulheres pretas, pardas e brancas, de acordo com causa da morte, idade materna, região geográfica e períodos antes e durante a pandemia. Calculamos as razões de prevalência com seus respectivos intervalos de confiança (IC 95 ), com o software EpiInfo 7.0. 3. estudo misto com componente quantitativo (3A,corte transversal) e qualitativo (3B) com puérperas de um hospital terciário em Campinas- SP conduzido entre 2021 e 2024. Dados sociodemográficos e obstétricos foram obtidos através de formulário específico. Aplicamos a Escala de Satisfação de Mackey para avaliar a satisfação na assistência ao parto em 300 mulheres. A cor da pele foi categorizada em negra e não negra e feita análise bivariada, considerando nível de significância de 5 , com o software SAS 9.4. Na parte qualitativa, realizamos entrevistas individuais semiestruturadas com 21 puérperas pretas e pardas. A seleção da amostra foi intencional, por saturação. Feita análise de conteúdo. 4. Normativas técnicas, entrevistas e outras abordagens. Resultados: 1: o racismo estrutural e institucional permeia os resultados em saúde, com impacto negativo em desfechos maternos e neonatais. 2: De 2017 a 2022, a RMM foi de 68,0. A RMM foi quase duas vezes maior entre mulheres pretas em comparação com brancas (125,81 vs 64,15, PR = 1,96, IC95 : 1,84–2,08) e pardas (125,8 vs 64,0, PR = 1,96, IC95 :1,85–2,09). A RMM foi maior entre mulheres pretas do que brancas ou pardas em todas as regiões geográficas, faixas etárias e causas. Durante a pandemia de COVID-19, a RMM aumentou em todos os grupos de mulheres, e as diferenças entre mulheres pretas e brancas (PR = 1,79, IC95 : 1,64–1,95) e pretas e pardas (PR = 1,92, IC95 : 1,77–2,09) permaneceram. 3: 3A - Cortetransversal - 300 puérperas, 182 (60,7 ) negras. As mulheres negras estavam menos satisfeitas com a capacidade de lidar com as contrações (p=0,046), conforto e bem-estar durante o trabalho de parto (p=0,035), controle das ações durante o trabalho de parto (p=0,003) e parto (p=0,03), quantidade de explicações recebidas da equipe de enfermagem (p=0,039), atitude do médico (p=0,023) e menor satisfação geral com a experiência de parto (p=0,013) em comparação com as mulheres não negras. As negras também tiveram uma pontuação menor na subescala geral de satisfação (p=0,011) e na de autoavaliação (p=0,02). 3B: a partir da análise temática do discurso das entrevistadas foram elaborados três temas: (1) O não dito: vivências sobre a cor de pele e assistência ao parto; (2) As várias manifestações de dor que permeiam a experiência do parto; (3) Autonomia e informação: a falta de informação pode levar à sensação de não estar no controle do processo. 4. Outros trabalhos publicados em jornal e revistas e material audiovisual e entrevistas para mídias convencionais. Conclusão: Reconhecer o racismo e compreendê-lo são essenciais para reduzir as desigualdades em saúde, as mulheres pretas apresentam maiores taxas de mortalidade materna do que brancas e pardas. Mulheres negras apresentaram menor grau de satisfação com a assistência ao parto, e suas percepções sobre a experiência do parto demonstraram a complexidade do racismo no Brasil, além de vivências de dor em suas várias manifestações e falta de autonomia e informação.