A presente tese foi elaborada a partir da pesquisa “Estratégias de Abordagem dos Aspectos Subjetivos e Sociais Durante a Pandemia de Covid 19”, desenvolvida pelo grupo de pesquisa e apoio Paideia do Departamento de Saúde Coletiva da FCM Unicamp, em parceria com a Fiocruz e Abrasco. A gestão e os cuidados oferecidos pela APS durante a pandemia, as mudanças na rotina do funcionamento das unidades e suas repercussões para seus trabalhadores e usuários, foram analisadas usando como instrumentos narrativas elaboradas a partir de entrevistas em profundidade com trabalhadores e usuários da APS, observação participante dos pesquisadores e análise documental. A tese resgata de forma sintética o processo histórico da atenção à saúde no Brasil, a luta pela reforma sanitária e a trajetória para a implantação do SUS. Analisa a organização da APS pelos municípios, que ocorreu com financiamento insuficiente e com modelos de atenção heterogêneos, mesmo quando a partir da década de 1990 o MS procurou induzir sua reorganização através da ESF. Com as contra reformas de meados da década de 2010 ocorreu ainda maior restrição de seu financiamento e com o Programa Previne Brasil o recurso financeiro a ser repassado aos municípios foi condicionado a metas de produtividade. Nesse cenário e com uma postura de negação da ciência pelo governo federal, se inicia a pandemia de covid 19 gerando medo e incertezas. Nas unidades de APS o processo de trabalho passou a ser reorganizado para assistência voltada ao pronto atendimento e monitoramento dos casos de covid. Seus trabalhadores tiveram que se reinventar, se sentiram sobrecarregados e temiam pelas mudanças que comprometiam a ESF. Houve restrição de acesso aos usuários e comprometimento da longitudinalidade do cuidado às pessoas com condições crônicas. Com a disponibilização de vacinas, houve diferentes estratégias de vacinação entre os municípios. A participação das unidades da APS no apoio às pessoas mais vulneráveis também se deu de maneira diversa. Apesar das dificuldades, trabalhadores e usuários avaliaram positivamente a participação da APS no enfrentamento da pandemia, mas expressaram preocupações com o futuro da APS e do SUS frente às mudanças que já vinham sendo implantadas antes e que foram acentuadas durante a pandemia. A expectativa positiva foi representada pelo resgate da participação popular e ativismo social que se manifestou na cidade do Rio de Janeiro