Esta pesquisa discute a configuração subjetiva social do apoio matricial em equipes multiprofissionais (NASF/eMulti) da Atenção Primária à Saúde (APS) de Campinas. Por meio da metodologia construtivo-interpretativa, desenvolvida por Fernando González Rey, buscou-se compreender como o apoio matricial, um modelo de gestão do cuidado interprofissional em saúde, é vivenciado pelos profissionais das equipes NASF/eMulti, bem como os desafios e as potencialidades emergentes nesse processo de trabalho. O apoio matricial, desenvolvido na década de 1990 e consolidado como política nacional em 2008, com a criação dos NASF, busca integrar e ampliar o cuidado na APS, promovendo práticas interdisciplinares e colaborativas. O presente estudo discute o impacto de mudanças políticas recentes no SUS para a continuidade do apoio matricial como postura de cuidado, apresentando os desafios políticos e epistemológicos de implementação dos NASF e do apoio matricial. Apesar desses desafios, observa-se a manutenção do apoio matricial em algumas localidades, sustentado pela dedicação dos profissionais e pela qualidade das relações interprofissionais. Destaca-se que o apoio matricial exige uma construção dialógica contínua, baseada na colaboração entre profissionais de diferentes especialidades, e na articulação com a comunidade e os usuários. Essa prática visa superar a fragmentação e promover um cuidado ampliado e corresponsável, essencial para atender à complexidade das demandas de saúde na APS. A pesquisa destaca ainda os desafios enfrentados pelas equipes NASF/eMulti, como a sobrecarga de trabalho, falta de estrutura adequada e dificuldades na formação para a prática do apoio matricial. Além disso, aponta para a forma como os profissionais da equipe NASF vão produzindo subjetivamente sobre dimensões macrossociais como a precarização e terceirização do SUS e a influência de uma gestão autoritária gerencialista e burocrática, características de um movimento do sistema neoliberal. Tal contexto gera processos de sobrecarga, impotência, desmobilização e inércia nos processos de trabalho dessa equipe, afetando diretamente no exercício do apoio matricial. Por outro lado, as equipes NASF, quando alinhadas à postura do apoio matricial, emergem como agentes de seus processos de trabalho, abrindo espaços de diálogo que tensionam qualitativamente os desafios encontrados por eles e abrem possibilidades para construção de práticas profissionais criativas e orientadas para o desenvolvimento de indivíduos e instituições. Assim, por meio de uma análise das experiências dos profissionais e das configurações subjetivas que emergem no contexto de trabalho, a pesquisa contribui para a compreensão das práticas em saúde como fenômenos dinâmicos e complexos.