Mulheres grávidas com risco de parto pré-termo são tratadas com glicocorticoides (GCs) para promover a maturação pulmonar do feto; no entanto, evidências sugerem risco aumentado de doenças cardiovasculares em longo prazo nessas mulheres, associado ao parto pré-termo. O excesso de GCs durante a gestação é conhecido por desencadear consequências metabólicas duradouras na prole, mas os efeitos sobre o metabolismo lipídico das mães, não necessariamente associados ao parto pré-termo, foram pouco elucidados. Além disso, ainda não se sabe como a idade materna avançada na gestação contribui para essas modulações. O objetivo deste estudo foi testar, em modelo animal, a hipótese de que mães expostas a níveis elevados de GCs na gestação, após cruzamento jovem ou tardio, poderiam apresentar distúrbios em longo prazo na homeostase de lipídios. Para isso, ratas Wistar fêmeas, após cruzamento jovem aos três meses de vida (3M) ou tardio aos seis meses de vida (6M), foram tratadas com dexametasona (DEX) 0,1 mg/kg/dia ou veículo (CTL) na água de beber durante a última semana gestacional (14° ao 19° dia). Realizou-se o acompanhamento do peso corporal, consumo alimentar e consumo hídrico das ratas até completarem um ano de vida. A partir deste momento, foram realizados testes funcionais e, após a eutanásia, coletou-se sangue, fígado, tecido adiposo branco e tecido adiposo marrom para análises posteriores de parâmetros bioquímicos, expressão gênica e proteica de alvos do metabolismo lipídico e miRNAs de interesse. Com um ano de vida, ratas do cruzamento jovem não apresentaram diferença significativa de percentual de tecido adiposo branco entre os grupos DEX-3M e CTL-3M. Essa diferença foi observada somente em ratas do cruzamento tardio, onde o grupo tratado com DEX na gestação (DEX-6M) apresentou maior peso relativo de gordura perigonadal e retroperitoneal em relação ao grupo não tratado (CTL-6M). Em concordância, ratas DEX-6M apresentaram menor expressão da proteína fosforilada p-ACC1 na gordura perigonadal e retroperitoneal em relação às ratas CTL-6M. As análises de miRNAs específicos mostraram menor expressão de miR-33-5p e miR-92a-3p em amostras de gordura perigonadal e retroperitoneal extraídas de ratas DEX-6M em relação às CTL-6M. Em suma, os resultados demonstraram que o cruzamento tardio e o tratamento com GCs na gestação contribuíram para o aumento de adiposidade em ratas no transcorrer da vida, além de alteração em uma enzima-chave e miRNAs envolvidos no metabolismo lipídico. No entanto, mais estudos são necessários para elucidar o controle da homeostase lipídica materna e entender o impacto em doenças cardiometabólicas futuras.