O presente trabalho tem o objetivo de analisar as políticas públicas farmacêuticas no município de São Paulo, na perspectiva da integração com a rede de atenção à saúde, da oferta de serviços farmacêuticos, do acesso e utilização de medicamentos pela população. Trata-se de um estudo que utilizou dois tipos de pesquisa, a retrospectiva descritiva e a transversal de base populacional, ambas com abordagem metodológica quantitativa. Foram utilizados como fontes de dados: sistemas de informação da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP), dados do Inquérito de Saúde de base populacional (ISA-Capital) e dados de atendimentos clínicos realizados por farmacêuticos atuantes em Unidades Básicas de Saúde de uma região do município. Para a caracterização dos serviços farmacêuticos desenvolvidos na rede municipal, a partir dos dados dos sistemas de informação da SMS-SP, utilizou-se como referência o Instrumentos de Referência de Serviços Farmacêuticos na Atenção Básica, com destaque para os três primeiros âmbitos. No Âmbito 1 - Gestão logística e acesso a medicamentos e Âmbito 3 – Coordenação da Assistência Farmacêutica, evidencia-se uma ampla rede de serviços com áreas específicas envolvidas a nível central, que tem atribuições bem definidas, com gestão descentralizada e hierarquizada. No Âmbito 2 – Cuidado Farmacêutico, evidencia-se uma oferta significativa de serviços e normativas. Já com relação aos dados do ISA-Capital, realizado em 2015, a prevalência de uso de medicamentos foi maior em mulheres, naqueles com idade de 60 anos ou mais, nos menos escolarizados e nos que tinham plano de saúde. Identificou-se uma associação significativa entre o consumo de medicamentos e o aumento da idade em todas as regiões. Menor prevalência foi identificada nos que relataram ganhar de 1 a 5 salários mínimos na região Centro-Oeste. Somente na região Sudeste os mais escolarizados apresentaram uma maior prevalência. Os medicamentos que atuam no sistema cardiovascular são os mais utilizados, seguidos pelos que atuam no aparelho digestivo e metabolismo e no sistema nervoso. Com relação aos dados dos atendimentos clínicos, foram realizados 3.626 atendimentos clínicos para 2.442 pacientes em 12 UBS. Foram identificados 7.849 problemas relacionados à farmacoterapia, com uma média de 2,9 problemas por pacientes em 2016 e 3,5 em 2022, sendo a maioria deles relacionados à adesão ao tratamento. Quanto às intervenções farmacêuticas, foram realizadas 17.304, com uma média de 7,0 por paciente, sendo grande parte direcionada para aconselhamento farmacoterapêutico aos usuários. Conclui-se que o município de São Paulo possui uma ampla rede de serviços farmacêuticos, que permeia por todos os âmbitos, com destaque alguns já amplamente consolidados, como gestão logística e acesso a medicamentos, Cuidado Farmacêutico e Coordenação da Assistência Farmacêutica. Evidencia-se ainda pontos de melhoria no aprimoramento de serviços farmacêuticos relacionados aos âmbitos de inovação tecnológica e sistemas de informação e gestão do conhecimento, apesar das iniciativas identificadas nos referidos âmbitos. Com relação ao uso de medicamentos, destaca-se uma maior prevalência em segmentos populacionais que mais usualmente frequentam os equipamentos de saúde municipal, assim como um destaque para os medicamentos para o tratamento de doenças crônicas, como sendo os mais utilizados, conforme já esperado, frente ao quadro de transição demográfica e epidemiológica do país.