Introdução: A doença de Crohn (DC), caracteriza-se pela inflamação crônica do trato gastrointestinal, manifestando sintomas como hemorragia, dor abdominal e perda de peso. A patofisiologia dessa doença envolve interações entre o sistema imunológico e o tecido intestinal, destacando a importância das células imunes e citocinas pró-inflamatórias, como o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), na perpetuação do processo inflamatório. O adalimumabe, um anticorpo monoclonal humano, é capaz de neutralizar o TNF-α, desempenhando um papel crucial na regulação das respostas inflamatórias associadas a essa citocina. Apesar de ser humanizado, ainda pode levar a processos imunogênicos, estes associados a ineficácia terapêutica. Assim, o monitoramento dos níveis séricos e dos níveis de anticorpos anti-droga é proposto como uma abordagem para otimizar a terapia, permitindo ajustes terapêuticos ideais. Além disso, a compreensão de fatores genéticos que podem influenciar a resposta clínica ao adalimumabe visa contribuir para fornecer novas elucidações sobre a relação entre fatores genéticos, imunológicos e o quadro clínico dos pacientes com DC. De maneira geral, esses dados podem permitir uma personalização da terapêutica, melhorando a qualidade de vida do paciente. Objetivo: Quantificar o nível sérico de adalimumabe, e avaliar a intercambialidade entre os testes de níveis séricos. Além disso, detectar a presença de anticorpos anti-adalimumabe (ADA), avaliar a formação de complexos imunes e investigar os fenótipos genéticos associados à imunogenicidade em pacientes com DC acompanhados no Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Gastrocentro e no Ambulatório de Diarreias do Hospital das Clínicas - Unicamp. Métodos: O estudo incluiu 70 pacientes em fase de manutenção que utilizavam o adalimumabe como terapia para a DC, tendo sidos subdivididos em atividade (DCA) e em remissão (DCR) de acordo com critérios endoscópicos ou radiológicos. Amostras de sangue periférico foram obtidas e processadas para obtenção de soro, DNA genômico. A concentração de adalimumabe foi determinada por ensaios de imunoabsorção enzimática (Promonitor) e ensaio de fluxo lateral (Quantum Blue). A intercambiabilidade entre os ensaios foi comparada pela análise de regressão Passing-Bablok e Bland-Altman. A presença de anticorpos anti-adalimumabe e a formação de complexos imunes foram quantificadas por
ensaios de ELISA. O DNA genômico foi extraído, e posteriormente genotipado para ATG16L1, CD96 e CD155. Resultados: As concentrações séricas de adalimumabe não apresentaram diferenças significativas entre os grupos, independentemente do ensaio realizado. No entanto, uma diferença estatística foi observada entre os ensaios, indicando disparidade nas medidas (p=0,003), com concordância moderada (correlação de Lin de 0,247). ADA foram detectados em 4 dos 27 pacientes com níveis infraterapêuticos, sendo 3 no grupo com DCA e 1 no grupo DCR. A análise dos complexos imunes revelou concentrações significativamente mais elevadas no grupo DCA (p=0,0125). A avaliação genotípica indicou associações significativas entre o genótipo CD96 CC (tipo selvagem) e níveis elevados de proteína C-reativa (PCR), envolvimento colônico e níveis infraterapêuticos de adalimumabe. O genótipo ATG16L1 CC foi associado a valores mais elevados de Índice de Atividade Endoscópica da Doença de Crohn (CDEIS) e calprotectina fecal, enquanto o genótipo variante (TT) apresentou contagens de plaquetas mais baixas. Conclusão: Nosso estudo demonstrou que a eficácia do tratamento com adalimumabe não está diretamente relacionada a níveis mais elevados do medicamento nesta coorte. A disparidade entre os ensaios sugere a necessidade de utilizar apenas um método de teste no acompanhamento do paciente para garantir a precisão no monitoramento terapêutico. As diferenças genotípicas destacam a correlação entre o genótipo selvagem para CD96 e ATG16L1 e respostas laboratoriais e endoscópicas desfavoráveis ao adalimumabe. Finalmente, os níveis significativamente elevados de complexos imunes no grupo DCA indicam uma associação com pior resposta ao tratamento com adalimumabe.